Desde que assumiu a presidência, Javier Milei implementou cortes drásticos que reduziram a inflação e eliminaram o déficit fiscal argentino, mas também agravaram problemas sociais. A diminuição do orçamento afetou setores essenciais, levando a manifestações e problemas relacionados à saúde, ciência e aposentadorias.
Impactos nos setores de saúde e profissionais médicos
O hospital pediátrico Garrahan, maior do país, exemplifica a crise na saúde pública. Segundo denúncias, o financiamento da instituição foi reduzido, levando greves de médicos residentes com salários abaixo da linha de pobreza, na tentativa de denunciar a falta de investimentos. Os protestos no hospital receberam enorme apoio popular, com petições que superaram 240 mil assinaturas na plataforma Change.org.
Dados do Departamento de Estatísticas do Garrahan mostram que, apesar do aumento nominal nas transferências do governo, o orçamento em termos reais caiu cerca de 30% devido à inflação, dificultando o funcionamento do hospital, que atende cerca de 600 mil pacientes por ano.
Pessoas com deficiência e aposentados também sofrem com os cortes
Famílias que possuem membros com deficiência tornaram-se críticas às políticas do governo, que suspendeu milhares de aposentadorias por incapacidade após auditorias em massa. Muitos alegam que a justificativa de fraude é usada para reduzir o financiamento à Agência Nacional para Pessoas com Deficiência (Andis) e congelar os valores pagos aos cuidadores, apesar da alta inflacionária.
Os aposentados, por sua vez, veem seu poder de compra diminuir drasticamente. Provas de uma pesquisa do Centro de Economia e Política Argentina (Cepa) indicam que as aposentadorias perderam 19,2% de valor em 2024. Além do congelamento de bônus e da redução de medicamentos gratuitos, protestos frequentes pressionam por reajustes e por uma moratória previdenciária que permita aposentadorias mais garantidas.
Cientistas também pagam alto preço pelos cortes de Milei
O setor de ciência e tecnologia, antes orgulho do país, foi duramente atingido. O Ministério da Ciência foi excluído do novo organograma do governo, levando à redução de postos de trabalho e à preocupação de que o “cientificídio” acabe com os avanços do setor. De acordo com dados, mais de 4 mil posições foram cortadas desde o início do governo, afetando uma parcela significativa de pesquisadores, incluindo membros do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet).
Consequências sociais e resistência popular
Além do impacto econômico, as medidas de Milei geraram forte insatisfação social. As manifestações de médicos, pessoas com deficiência, aposentados e cientistas evidenciam a resistência crescente contra o governo, que busca manter o ajuste fiscal à custa de setores vulneráveis. A proposta de prolongar a “moratória previdenciária” e de aumentar as aposentadorias enfrenta veto do Executivo, agravando o clima de tensão na Argentina.
O quadro político e social do país revela o difícil equilíbrio entre sustentabilidade fiscal e políticas sociais, com a população cada vez mais mobilizada em protestos que refletem a profunda crise gerada pelos cortes de Milei. A expectativa é que as reformas sigam provocando polêmica e impacto social até que novas decisões governamentais possam amenizar ou agravar ainda mais a situação.