Brasil, 8 de junho de 2025
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Impactos da exposição prolongada a telas no desenvolvimento infantil

A exposição excessiva a telas pode afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças pequenas.

No mundo atual, é quase impossível escapar das telas. De smartphones e tablets a televisões e computadores, as crianças são expostas a dispositivos digitais desde cedo — e frequentemente por horas a cada dia. Contudo, especialistas alertam que essa conveniência do entretenimento digital vem a um preço elevado.

Consequências do uso excessivo de telas

Chava Treitel, chefe de P&D da iniciativa “Revolução da Atenção”, traça um panorama preocupante sobre como as telas — especialmente aquelas utilizadas na primeira infância — podem alterar fundamentalmente o desenvolvimento cerebral, encurtar períodos de atenção e perturbar o crescimento emocional e social. “A exposição precoce e prolongada a telas interfere em como o cérebro se desenvolve”, explica Treitel em entrevista ao Ynet.

Ela destaca que, entre zero e seis anos, o cérebro da criança é extremamente sensível. “A forma como aprende a processar o mundo é por meio de entradas sensoriais — toque, movimento, som, contato visual, expressões faciais. As telas fornecem estimulação artificial que inunda o cérebro e não permite que ele desenvolva a capacidade de tolerar tédio ou processar sinais sutis.”

Desafios nos ambientes de aprendizagem

De acordo com Treitel, quando crianças pequenas se acostumam com o conteúdo rápido e altamente estimulante das telas, seus sistemas nervosos lutam para se ajustar a situações da vida real. “Elas entram nas salas de aula esperando o mesmo tipo de emoção que recebem de uma tela. Quando não conseguem, se desconectam. É aí que começamos a ver distúrbios de atenção”, alerta.

A especialista observa que os picos de dopamina que as crianças recebem do conteúdo digital alteram o sistema de recompensas do cérebro. “As telas programam o cérebro para buscar recompensas rápidas e frequentes. O aprendizado na vida real não funciona assim — muitas vezes é lento, cumulativo e requer esforço. Mas quando as crianças se acostumam a serem recompensadas instantaneamente, perdem a motivação por tarefas mais lentas e significativas.”

Impactos emocionais e problemas de saúde

Além dos impactos cognitivos e emocionais, o tempo excessivo diante das telas também está afetando a saúde física das crianças. “As crianças de hoje estão se movendo menos e isso é um problema real”, alerta Treitel. “Estamos vendo mais casos de fraqueza muscular, desenvolvimento motor atrasado, escoliose e até distúrbios alimentares nas crianças e adolescentes que passam horas em frente a telas.”

Pior do que isso, a má postura enquanto se inclinam sobre smartphones, combinada à falta de atividade física, contribui para uma série de problemas musculoesqueléticos. “O corpo humano não foi projetado para ficar parado e olhar para baixo o dia todo”, enfatiza. “O movimento é essencial para o desenvolvimento saudável — e não apenas para o corpo. O movimento também regula o humor, apoia o aprendizado e fortalece as conexões neurais.”

A diferença entre tipos de tela

Treitiel enfatiza que nem todas as telas têm o mesmo efeito. “A televisão e a mídia digital não exercem o mesmo impacto. A TV obriga você a acompanhar uma narrativa relativamente longa que não foi escolhida, o que requer atenção e paciência. A mídia digital, por outro lado, dá controle total — você pode pular, rolar e mudar instantaneamente para a próxima coisa. Isso reprograma o cérebro para esperar novidades a cada poucos segundos.”

Ela adverte que esse resultado implica em uma redução significativa de nossa capacidade de nos concentrarmos por períodos prolongados. “E sem atenção sustentada, não conseguimos nos engajar em um pensamento profundo. Isso é um problema sério para aprendizado e regulação emocional.”

Recomendações para limitar o uso de telas

Treitel recomenda que os pais estabeleçam regras claras sobre o uso de dispositivos digitais. “No que diz respeito a crianças de zero a dois anos, evite o tempo de tela totalmente. Se necessário, deve ocorrer apenas sob supervisão de um adulto. Para crianças de três a seis anos, limite a 60 a 90 minutos por dia, com um adulto presente para ajudar a interpretar o conteúdo.”

Ela também sugere que famílias adotem rituais sem telas — como refeições ou atividades compartilhadas — e mantenham os celulares fora dos quartos. Para adolescentes, o ideal é não permitir celulares no quarto e interromper o uso de telas pelo menos duas horas antes de dormir.

Adaptabilidade do cérebro e a importância da interação real

Treitel compartilha a esperança de que o cérebro permanece adaptável. “Nunca é tarde para mudar seus hábitos digitais e ver melhorias. Mas algumas habilidades — como regulação da atenção e resiliência emocional — têm janelas de desenvolvimento específicas”, conclui.

Ela finaliza enfatizando que “se essas janelas forem preenchidas com o tempo de tela em vez de engajamento na vida real, os efeitos podem aparecer mais tarde na vida de maneiras que são mais difíceis de reverter.”

Por fim, ela aconselha: “Seja o modelo. As crianças refletem o comportamento dos pais. Se elas veem você constantemente no celular, farão o mesmo.”

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