Apesar de ser mais conhecido pelo seu clima úmido e paisagens deslumbrantes, o Rio de Janeiro tem percebido um potencial crescente para a produção de cacau de alta qualidade. Um movimento de produtores, pesquisadores e empreendedores está incentivando o cultivo de cacau fino no estado, que busca entrar no mercado de chocolates premium e valorizar as tradições agrícolas locais.
Potencial do cacau no Rio e a valorização no mercado
O preço da amêndoa de cacau atingiu seu auge em 2024, passando de US$ 4.200 em janeiro para US$ 12.260 em abril, uma valorização de 191%, segundo dados da Bolsa de Chicago. Em junho, o valor permanecia elevado, em US$ 8.600 por tonelada. Essa valorização é atribuída à baixa oferta global e à crescente demanda por cacau de qualidade, especialmente o fino, produzido de forma sustentável.
Movimento local e foco na qualidade
No Rio, o movimento “Cacau RJ” reúne cerca de 50 produtores de diferentes regiões, como Paraty, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito. A proposta não é competir por volume com grandes estados como a Bahia, mas consolidar uma produção de cacau de elite, com rastreabilidade, sustentabilidade e valor agregado. Patrícia Nicolau, pesquisadora e fundadora do coletivo, destaca que “o solo fértil e o clima favorável possibilitam um desenvolvimento sustentável de culturas associadas, como banana, pimenta e café, que enriquecem o manejo”.
Patrícia explica que, apesar do potencial, falta apoio e incentivo para que o estado se torne uma potência na cadeia do cacau fino. Ela ressalta que o Rio precisa de investimento em infraestrutura, capacitação técnica e maior reconhecimento oficial da sua produção, que atualmente responde por uma parcela pequena da oferta nacional.
Desafios e perspectivas para o cacau no Rio
Um dos principais obstáculos é a falta de incentivos, já que o Rio de Janeiro é pouco reconhecido como produtor de cacau. Segundo Celso Merola, chefe da divisão de desenvolvimento rural do Ministério da Agricultura no estado, há esforços para captar recursos por meio de emendas parlamentares, além de articulação com órgãos federais para fortalecer a produção.
Outro desafio importante é a necessidade de apoio técnico para manejo sustentável e de manejo adequado de áreas de regeneração e de espécies invasoras, como as jaqueiras, que dificultam o desenvolvimento das árvores de cacau.
Cachoeiras de Macacu como exemplo de potencial agrícola
O município tem demostrado grande interés na diversificação agrícola, investindo no cultivo de cacau em áreas de relevo propício e com bom índice pluviométrico. O secretário municipal de Agricultura, José Marcos de Góis, explica que a intenção é transformar Cachoeiras de Macacu na “capital do cacau” do estado, priorizando a produção orgânica e sustentável. A iniciativa envolve assistência técnica, incentivo ao manejo agroflorestal e redução do uso de agrotóxicos.
Desde 2009, o produtor Carlos Cipriano tem desenvolvido sua fazenda na região, superando dificuldades técnicas e burocráticas. Ele cultiva cacau de alta qualidade, abastecendo empresas de chocolates finos e veganos, e busca ampliar sua produção com apoio técnico e regulamentar.
O futuro do cacau no Rio de Janeiro
Especialistas e autoridades locais veem o momento como promissor para consolidar o Rio como uma nova fronteira agrícola de cacau fino — uma cultura que alia tradição, inovação e respeito ao meio ambiente. Segundo o secretário estadual de Agricultura, Dr. Flávio, politicas públicas e o protagonismo dos agricultores vão fortalecer esse setor, que na visão de todos, possui potencial de gerar renda, valorizar a biodiversidade e contribuir para o desenvolvimento sustentável do estado.
Atualmente, iniciativas como as do Movimento Cacau RJ, apoio do Sebrae Rio e universidades criam uma base sólida para ampliar a produção, com foco na qualidade e na sustentabilidade. Com o apoio adequado, o Rio pode, nos próximos anos, se tornar referência na produção de cacau fino, competindo em um mercado que valoriza cada vez mais o produto orgânico, rastreável e socialmente justo.
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