Em dezembro, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi homenageado por parlamentares de diversos espectros políticos por sua gestão de quatro anos à frente da Casa. Na ocasião, Lira afirmou que voltaria feliz para o “chão da fábrica”, expressando seu desejo de ser apenas “mais um” deputado. No entanto, quase sete meses depois, essa frase parece se mostrar inadequada. Lira continua a ter influência significativa junto a integrantes do governo, orienta seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), e influencia as decisões de muitos colegas em questões relevantes. Mas a realidade em Alagoas, seu bastião eleitoral, é distinta; Lira enfrenta dificuldades para se articular com aliados e obter o apoio necessário para sua esperada candidatura ao Senado.
A parceria problematizada com os aliados
Nos últimos meses, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), amigo de Lira, começou a se aproximar de Renan Calheiros (MDB-AL), o principal adversário do deputado em Alagoas. Essa movimentação política pode comprometer suas chances de construir um palanque forte para as eleições de 2026. Enquanto tenta superar os desafios em sua terra natal, Lira continua a participar ativamente dos rumos da Câmara dos Deputados. Ele é peça fundamental em diversas pautas, como o projeto que cria novas bases para descontos no Imposto de Renda.
Lira ainda é referência na Câmara
Apesar de sua saída da presidência, Lira ainda goza de uma relevância significativa no cenário político. Ele mantém proximidade com Motta, o que lhe permite influenciar discussões importantes. Embora sempre afirme que Motta possui autonomia, Lira continua a exercer um papel de sombra, como demonstrado quando interveio para que Motta tomasse uma posição firme em relação a um requerimento que suspendia parte do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), implicado em atos golpistas.
Desafios eleitorais e articulações no estado
Na esfera local, Lira enfrenta outros desafios. O apoio de JHC à sua candidatura ao Senado ficou incerto, especialmente após o prefeito abrir mão de ter um vice indicado por Lira. Mesmo sem a indicação formal, Lira apoiou sua candidatura à reeleição, esperando receber apoio em troca nas próximas disputas eleitorais. Atualmente, JHC pode se juntar a Renan Filho (MDB) na corrida pelo governo de Alagoas, enquanto se lança ao Senado, o que reforçaria a posição dos Calheiros no estado. O controle político do MDB, que domina 69 dos 102 municípios alagoanos, representa um obstáculo significativo para Lira.
Tensões se intensificam entre Lira e Calheiros
A relação entre Lira e JHC foi ainda mais complicada com a indicação da procuradora Marluce Caldas, tia de JHC, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O prefeito esperava que Lira fizesse valer sua influência nas negociações com o governo federal, o que não ocorreu. Desde então, aliados de Lira em secretarias municipais foram exonerados, sinalizando um atrito crescente.
Renan Calheiros não apenas reforçou sua oposição a Lira, mas também expressou apoio à indicação de Marluce para o STJ, afirmando que não há espaço para composições com o ex-presidente da Câmara. As declarações de Calheiros evidenciam a dimensão do conflito: “Descartamos uma aproximação com Lira. Entre ele e JHC, eu escolherei sempre o prefeito”. Este ambiente tenso pode dificultar ainda mais a construção da base necessária para Lira se lançar efetivamente ao Senado.
Possíveis mudanças no cenário político
Por fim, o prefeito João Henrique Caldas pode decidir trocar o PL, partido pelo qual foi reeleito, pelo PSB nos próximos meses, o que o aproximaria ainda mais da base do governo e da família Calheiros. Assim, as articulações de Arthur Lira para garantir sua candidatura ao Senado em 2026 passam por um caminho cheio de incertezas e desafios, o que ressalta a complexidade da política alagoana e a inevitável constância de alianças e desencontros.