O setor agropecuário, responsável por impulsionar a economia brasileira no início deste ano, apresenta sinais de arrefecimento após o forte desempenho em 2023. Apesar do PIB do Brasil ter crescido 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao último trimestre de 2024, fatores como custos elevados, taxas de juros altas e cotações internacionais mais contidas têm limitado a rentabilidade dos produtores rurais.
Sinais de dinamismo no interior, com desafios à frente
Entre os indicadores de força, destacam-se as vendas recordes de veículos em cidades de forte produção agrícola, o desemprego abaixo da média na agroindústria e o crescimento na frota de aviões particulares usados em atividades rurais. Segundo dados do IBGE, as dez principais cidades produtoras apresentaram aumento de 101% nas vendas de veículos de janeiro a abril, comparado ao mesmo período de 2024, conforme levantamento da Bright Consulting.
Na análise do mercado de trabalho, Mato Grosso registrou uma taxa de desemprego de 3,5% no primeiro trimestre, significativamente inferior à média nacional de 7%. Já o mercado de aviação particular manteve expansão, com crescimento de 8,4% na frota de aviões no ano passado, impulsionado pelo aumento na demanda por aeronaves turboélices, mais usadas em fazendas e operações rurais.
Desafios atuais impactam o setor agropecuário
Produtores como Alexandre Baumgart, de Rio Verde (GO), anunciam que tiveram que reduzir investimentos em quase 40% devido às altas taxas de juros e à escassez de crédito acessível — fatores que comprometem a manutenção da atividade agrícola e pecuária. Segundo o empresário, os custos de maquinário, que variam de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões, vêm sendo financiados a taxas elevadas, dificultando novos investimentos.
Especialistas indicam que essas condições financeiras, aliadas à redução das cotações internacionais de commodities, prejudicam a rentabilidade do setor. O coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon, explica que “o preço depreciado no mercado internacional desde o fim do ano passado” é um dos fatores que pesam contra os lucros dos produtores.
Mudanças no cenário e expectativas para o futuro
Apesar das dificuldades, a economia do Centro-Oeste, principal região produtora, deve crescer 6,7% em 2025, mais que o dobro do avanço previsto para o Sudeste, de 2,9%, segundo a MB Associados. A demanda por aeronaves particulares usada na agricultura e o aumento na venda de veículos reforçam o impacto positivo do agro na economia regional.
O mercado imobiliário também demonstra expectativa de valorização nas regiões ligadas ao agronegócio. O complexo Rios de Cuiabá, por exemplo, tem registrado valorização de até 500% para imóveis adquiridos na planta, aponta José Renato Engel Vieira, superintendente de Vendas da RNI. Contudo, o setor imobiliário praticamente interrompeu lançamentos no primeiro trimestre, priorizando a preservação de margens de lucro.
Perspectivas e riscos para o setor
Os especialistas alertam que o ciclo de alta dos juros, iniciado pelo Banco Central, continua sendo um obstáculo para o incremento do crédito rural e para a retomada de investimentos mais robustos. O economista Fernando Honorato Barbosa destaca que a “falta de crédito, com juros muito altos”, é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais atualmente.
Apesar do cenário desafiador, a agropecuária permanece como um dos pilares do crescimento econômico brasileiro, exercendo influência direta e indireta em setores como indústria, serviços e transporte, além de contribuir significativamente para a arrecadação regional.
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