No último sábado (7), a festa junina da Comunidade do Santo Amaro, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, se transformou em um verdadeiro pesadelo após uma ação da Polícia Militar, especificamente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Um jovem de 24 anos, chamado Herus Guimarães, perdeu a vida, enquanto outros cinco ficaram feridos, incluindo Emanuel da Silva Félix, de apenas 16 anos, que teve uma bala alojada nas costas.
A tragédia em meio à festa
Emanuel e suas 60 companhias de dança estavam na favela para uma apresentação tradicional de quadrilha, uma atividade cultural que acontece na comunidade desde a década de 1980. Ao relatar sua experiência, o jovem descreveu os momentos de terror que vivenciou. “Foi um constrangimento ver a polícia entrando, parecia cena de filme. Eu nunca imaginei passar por isso”, desabafou.
Durante a abordagem policial, Emanuel tentou se movimentar para avisar a todos sobre a situação, mas logo encontrou-se sob os tiros. Em seu relato, ele recordou: “Quando comecei a descer para avisar o pessoal, ouvi os tiros. Um menino de lá me alertou para não ir por uma viela, mas quando voltei, uma bala atingiu minhas costas”. Ele recebeu atendimento de um motoboy e foi levado inicialmente a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Botafogo.
Desesperança e gratidão
A mãe de Emanuel, Maria Aparecida da Silva Félix, expressou sua gratidão por seu filho estar vivo, afirmando que “a primeira gratidão é a Deus”. Ela também comentou: “O que aconteceu foi angustiante e não desejamos isso a ninguém”. A emoção de uma mãe que finalmente pode abraçar seu filho após momentos críticos é difícil de traduzir em palavras.
Outras vítimas e o clima de tensão
Entre os feridos, está o cozinheiro Leurimar Rodrigues de Souza, de 38 anos, que também foi baleado durante o tiroteio. Sua esposa, Leidiane Ferreira, afirmou que a correria e a confusão foram generalizadas. “Estávamos no meio da festa e, de repente, tudo virou um caos. Eu fui para um lado e ele ficou no outro. Fiquei desesperada”, relatou Leidiane.
A situação na Comunidade do Santo Amaro é tensa, com moradores protestando em frente à 9ª DP (Catete) após a tragédia. A PM justificou a operação alegando que houve a necessidade de checar informações sobre a presença de criminosos armados na região, mas que não houve revide. Um inquérito foi iniciado para investigar a ação e as circunstâncias em que os disparos ocorreram.
A resposta da polícia e as consequências
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro (SEPM) declarou que a operação visava estabilizar a comunidade e garantir a segurança dos moradores durante o evento. Contudo, a ação resultou em um clima de medo e desconfiança entre os habitantes locais, que esperavam apenas celebrar a tradição junina.
As autoridades alegam que as equipes estavam utilizando câmeras corporais durante a operação e que as imagens estão sob análise da Corregedoria da Corporação, uma medida que pode ser essencial para esclarecer o ocorrido e potencialmente responsabilizar aqueles que agiram inadequadamente. Esta tragédia relança o debate sobre a abordagem policial em comunidades de alta vulnerabilidade e a necessidade de ações que priorizem a segurança e a proteção da população civil.
A reflexão necessária
É imprescindível refletirmos sobre a complexidade da situação em que os moradores de comunidades como a de Santo Amaro se encontram. O luto por Herus e a angústia de quem ficou ferido revelam a urgência de práticas policiais que respeitem não apenas o cumprimento da lei, mas que também considerem a vida dos cidadãos e a cultura local. Tradicionalmente, as festas juninas são momentos de alegria e união, e não de violência e desespero.
Ao final, resta esperar que esta tragédia não seja apenas mais um número nas estatísticas de violência, mas que sirva como um chamado à ação para a construção de um ambiente mais seguro e respeitoso para todos.