Os monges do Mosteiro de Santa Catarina, localizado no Sinai, bloquearam as entradas do local em protesto contra uma recente decisão judicial que transferiu a propriedade do sítio para o Estado egípcio, concedendo à Igreja apenas direitos de uso temporários. A controvérsia acirrou tensões internacionais e críticas à política de preservação do patrimônio religioso na região.
Decisão judicial e reação da Igreja ortodoxa
A medida, publicada na semana passada, foi recebida com forte oposição pelos monges, que afirmam ter documentos históricos que comprovam a propriedade do monastério desde o século VI. A Igreja Ortodoxa descreveu a decisão como um “précedente perigoso” e alertou para os riscos de estabelecer um “novo Vaticano” sob controle estatal.
Segundo o arcebispo Damianos de Sinai, Pharan e Raitho, a sentença configura uma “manipulação judicial”. Ele explicou que, desde 1980, a comunidade religiosa deu entrada em 71 pedidos de propriedade, mantendo registros oficiais que, até então, não tinham sido considerados pelo Estado egípcio, que tenta justificar a transferência com argumentos de soberania.
Implicações e tensões internacionais
Certas igrejas e líderes religiosos ao redor do mundo manifestaram sua preocupação com a situação. O Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, junto com os Patriarcados de Jerusalém e Alexandria, além de representantes de igrejas na Grécia e Chipre, adotaram uma postura de cautela, enquanto outras instituições optaram por não se posicionar, o que agravou a crise diplomática.
Greece tem se destacado na defesa do monastério, promovendo reuniões diplomáticas e emitindo declarações formais. O ministro das Relações Exteriores grego, Georgios Gerapetritis, reuniu-se com seu colega egípcio, Badr Abdelatty, no Cairo, para discutir o futuro do sítio sagrado (leia mais).
Contexto e possíveis motivações
Archbishop Damianos criticou a alteração unilateral do acordo firmando anteriormente entre a Igreja e as autoridades egípcias, ao afirmar que o Estado tentou assumir o controle total do local, mesmo com documentos históricos de propriedade. Ele comentou: “Nosso monastery protege este patrimônio desde o século VI. Agora, nos dizem que podemos usá-lo, mas não somos proprietários.”
O representante legal do mosteiro, Christos Kompiliris, afirmou que negociações anteriores duraram nove meses e foram interrompidas de forma abrupta, com uma decisão judicial que contradizia os acordos feitos. Essa sentença, segundo ele, coloca em risco a permanência dos monges, que podem perder o controle do sítio a qualquer momento, inclusive por questões políticas.
Projetos de turismo e controvérsia local
Algumas fontes apontam que o conflito também está ligado ao projeto “Grande Transfiguração”, iniciado em 2021 pelo governo egípcio, com o objetivo de transformar a área do monastério em um destino turístico integrado. Críticos temem que essa iniciativa comprometa a integridade do patrimônio religioso e cultural.
Enquanto isso, a disputa segue acalorada, com a comunidade internacional acompanhando de perto os desdobramentos. A crise evidencia o delicado debate sobre preservação, soberania e direitos históricos na região do Sinai.
Esta matéria foi publicada originalmente pela ACI MENA e adaptada pela CNA.