A indústria brasileira apresentou sua primeira queda em 18 meses, refletindo uma desaceleração marcada pelo aumento dos juros e pela demanda menor por bens industriais. Em maio, o Banco Central elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, atingindo o maior nível em quase duas décadas, o que impacta diretamente o setor industrial.
Indicadores de desaceleração industrial em alta
De acordo com a pesquisa divulgada nesta sexta-feira (6) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o emprego industrial teve recuo de 0,4% em abril, enquanto o indicador de capacidade instalada caiu 0,6 ponto percentual, chegando a 77,9%. Além disso, as horas trabalhadas na produção também tiveram uma retração de 0,3% no mesmo mês.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explicou que o emprego costuma reagir de forma lenta ao cenário econômico, o que torna a queda de 0,4% no mês de abril bastante significativa, sinalizando uma desaceleração na atividade industrial. “A queda reflete uma demanda menor por bens industriais e o fim do ciclo de crescimento de 17 meses no emprego”, afirmou.
Produção industrial, faturamento e perspectivas futuras
A produção da indústria de transformação registrou um aumento de apenas 0,1% em abril, após uma desaceleração nos meses anteriores. Entretanto, o faturamento real do setor caiu 0,8% na mesma passagem de março para abril, marcando a segunda queda consecutiva. Apesar disso, a massa salarial e o rendimento médio real seguiram crescendo, embora de forma parcial, recuperando parte das perdas anteriores.
Segundo o analista da CNI, essas informações reforçam a tendência de moderada desaceleração da atividade industrial, influenciada pelo aumento do custo do crédito e pelos altos juros. “O cenário atual indica uma transição para uma fase de crescimento mais lento, embora os indicadores de demanda ainda estejam relativamente resistentes”, pondera Azevedo.
Juros elevados e impacto na economia
O contexto de juros elevados é central para entender a retração na indústria. O Banco Central reforçou a estratégia de manter a política monetária restritiva, justificando que uma desaceleração econômica faz parte do esforço de combate à inflação. Em março, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que há sinais iniciais de desaceleração, mas que é preciso manter vigilância sobre a evolução dos preços.
Para 2025, o mercado estima crescimento de 2,13%, enquanto o Banco Central projeta uma expansão de 1,9%. O BC também destacou na ata da última reunião do Copom que o “hiato do produto” permanece positivo, indicando que a economia opera acima do potencial de crescimento sem pressionar a inflação. Segundo o BC, o efeito dos juros mais altos já contribui para a desaceleração da atividade econômica e deve impactar ainda mais a geração de empregos.
Especialistas destacam que a política de juros elevados deverá continuar por mais tempo, contribuindo para uma fase de crescimento mais lento e desafios adicionais para o setor industrial brasileiro.
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