Brasil, 6 de junho de 2025
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Tarifas de Trump podem enfraquecer acordo entre UE e Mercosul, avaliam especialistas

A ameaça de tarifas de 50% sobre importações da União Europeia pelos EUA pode influenciar a França a reconsiderar o acordo com o Mercosul, dizem analistas.

A possibilidade de aplicação de tarifas de 50% por parte dos Estados Unidos sobre as importações europeias, uma escalada na guerra comercial liderada pelo presidente Donald Trump, pode diminuir a resistência da França em aceitar o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, avaliam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Essa medida, que afetaria setores industriais franceses, contribui para uma reconsideração da posição do país em relação ao tratado, que enfrenta forte oposição interna.

Impactos da escalada tarifária na relação UE e Mercosul

Segundo Antoine Bouët, diretor do Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII), a decisão americana de aumentar as tarifas de 25% para 50%, prevista para entrar em vigor em julho, reforça a necessidade da Europa de buscar novos parceiros comerciais. “A decisão americana de aumento das tarifas é muito violenta, com forte impacto em países como a França e a Alemanha, e suscita reflexões estratégicas na Europa sobre a necessidade de buscar parceiros diferentes”, afirma Bouët.

Apesar de o acordo entre a UE e o Mercosul ainda depender de aprovação do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu, a atual tensão internacional pode acelerar sua ratificação. “A situação internacional pode ser um pretexto para acelerar sua aprovação e o tratado será adotado de alguma forma”, comenta o economista Rémi Bourgeot, pesquisador do IRIS em Paris.

Repercussões internas na França e resistência ao tratado

O líder francês, Emmanuel Macron, se posiciona de forma contundente contra o acordo, principalmente por causa da pressão de agricultores e ecologistas que temem impactos negativos, como a concorrência desleal e o aumento de protestos, como ocorreu no ano passado. Macron chegou a não participar da cerimônia de reabertura da catedral Notre-Dame após a assinatura do tratado, indicando seu descontentamento.

De acordo com Bourgeot, o governo francês tenta, no momento, uma estratégia de manter uma postura de oposição, embora saiba que a implementação do acordo seja difícil de barrar completamente. “Macron tentaria modificar um pouco o texto para dizer que conseguiu alguma concessão, mesmo que simbólica”, avalia o especialista.

Perspectivas e possíveis ajustes no acordo

O ministro francês das Finanças, Éric Lombard, destacou que, diante da ameaça tarifária dos EUA, é preciso acelerar as discussões sobre o tratado com o Mercosul. Em encontro com o ministro brasileiro da Fazenda, Fernando Haddad, Lombard reiterou a necessidade de ajustes, especialmente em relação à pegada ecológica, setor industrial e agricultura, para que o acordo possa avançar. “Faltam condições para sua ratificação”, afirmou o ministro.

Apesar das dificuldades, especialistas como Philippe Barbet, da Sorbonne Paris Nord, apontam que o acordo é considerado equilibrado e de interesse principalmente para o setor de serviços e indústria na Europa. Contudo, setores agrícolas, especialmente de cereais e carne, enfrentam resistência, embora a carne do Mercosul represente uma parcela relativamente pequena no consumo europeu.

O cenário político e a influência do contexto global

Com a presença do presidente Lula em Paris para uma visita de uma semana, o governo francês mantém sua posição de restrição ao tratado, justificando que ele não é benéfico para a economia do país e que o momento exige uma análise criteriosa. “A França não mudou sua oposição ao acordo devido às tarifas americanas, ela avalia que o tratado atual não é satisfatório”, afirma uma fonte diplomática francesa.

Resta acompanhar como os encontros entre Macron e Lula influenciarão a postura francesa diante do acordo, que, apesar das dificuldades, parece destinado a ser concluído diante do cenário internacional cada vez mais complexo e hostil ao livre comércio.

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