Um neurocirurgião de 73 anos, cujo registro profissional foi interditado em maio deste ano, está sendo investigado por suspeita de assédio sexual e estupro de pelo menos quatro mulheres no interior de São Paulo. As denúncias, que remontam a 2015, revelam um padrão perturbador de importunação durante consultas médicas, levantando questões sobre a ética profissional e a segurança das pacientes.
Cronologia das denúncias de assédio
A primeira denúncia foi registrada em maio de 2015, quando uma mulher de 47 anos relatou que, durante uma consulta no Hospital Irmãos Penteado, foi assediada pelo médico enquanto acompanhava sua sogra. Segundo seu depoimento, o neurocirurgião pediu que a paciente o seguisse até uma sala privada, onde teria feito avanços não solicitados, incluindo toques inadequados. Apesar de ter feito Boletim de Ocorrência na época, a Polícia Civil arquivou o caso por falta de provas.
Nos anos seguintes, outras mulheres também relataram experiências semelhantes. Em 2021, uma paciente narrou à polícia que o médico havia a elogiado de maneira inadequada e continuado a importuná-la durante a consulta. Em 2022, outra vítima descreveu uma situação semelhante, em que o neurocirurgião teria tentado agarra-la. Em agosto de 2023, mais uma paciente denunciou o médico após ser surpreendida por um beijo na boca ao final de uma consulta.
Reação das vítimas e suporte da polícia
As vítimas expressaram sentimentos de impotência e frustração após as experiências traumáticas. “Eu não imaginava que um senhor faria isso com a gente num momento difícil, onde minha sogra não estava bem”, desabafou uma das mulheres. Muitas delas não registraram boletins de ocorrência, acreditando que suas alegações não seriam levadas a sério, o que reforça a importância de um ambiente seguro e acolhedor para que as vítimas denunciem abusos.
A defesa do médico e sua situação profissional
A defesa do neurocirurgião nega todas as acusações, ressaltando que ele se afastou das funções profissionais relacionadas às denúncias em curso para garantir a integridade do processo investigativo. A equipe legal também afirma que ele colaborou integralmente com as investigações, apresentando documentos e depoimentos para comprovar sua atuação profissional correta.
Atualmente, a defesa alega confiar que as instituições conduzirão as investigações de maneira justa, respeitando os direitos do acusado. Contudo, a suspensão do registro do médico pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) foi uma resposta direta às acusações, refletindo a seriedade das alegações contra ele.
Impacto nas instituições de saúde
As instituições de saúde envolvidas, incluindo o Hospital de Clínicas da Unicamp, têm enfrentado pressão para esclarecer a situação. Embora o hospital tenha indicado que o médico solicitou férias, a situação levanta questões sobre a vetação ao exercício da medicina em casos de alegações tão graves. A falta de um posicionamento claro e a eventual continuidade dos trabalhos clínicos do médico podem afetar a confiança do público na integridade das instituições de saúde.
Expectativas e desdobramentos da investigação
Atualmente, o inquérito está sob a custódia do Tribunal de Justiça de São Paulo, e crimes sexuais são tratados com o devido sigilo para proteger as vítimas. No entanto, a necessidade de transparência e um devido processo também é essencial para assegurar que a justiça seja feita, seja na confirmação da inocência do médico, seja na responsabilização por condutas abusivas.
O caso ainda está em desenvolvimento e pode resultar em consequências jurídicas significativas para o neurocirurgião. Enquanto isso, as reivindicações das vítimas por justiça e um ambiente seguro para todas as pacientes continuam a tomar forma, ressaltando a importância de abordar questões de assédio sexual em ambientes médicos.
É fundamental que denúncias de abuso sejam tratadas com a seriedade que merecem, e que as instituições de saúde adotem medidas rigorosas para prevenir e combater a importunação sexual, garantindo a proteção das pacientes e a honra da profissão médica.