Na data em que o Parque Nacional da Serra da Capivara completaria 46 anos, a comunidade arqueológica e cultural do Brasil se une em luto pela morte de sua fundadora, a renomada arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon. O falecimento da pesquisadora ocorreu um dia antes das comemorações programadas para celebrar a rica história do parque. Devido a respeito à sua memória, a festa foi adiada e uma nova data ainda será divulgada.
A fundadora e seu legado
Niède Guidon, responsável por descobrir e escavar o sítio arqueológico da Serra da Capivara em 1973, foi uma figura fundamental para o reconhecimento da importância cultural e histórica da região, que abriga uma das maiores concentrações de arte rupestre do mundo. Com mais de 130 mil hectares, o parque está localizado em quatro municípios do Piauí: Brejo do Piauí, João Costa, São Raimundo Nonato e Coronel José Dias. Estima-se que os desenhos rupestres encontrados por Niède sejam datados de até 30 mil anos.
“Ela não foi só uma grande pesquisadora, mas também uma gestora excepcional”, disse Marian Rodrigues, atual diretora do parque. “Devemos muito ao trabalho de Niède Guidon. Honramos tudo o que aprendemos com ela e continuaremos a preservar este legado.” O Parque Nacional da Serra da Capivara não apenas protege sítios arqueológicos, mas também uma rica biodiversidade, incluindo mamíferos ameaçados de extinção e diversas aves.
Reconhecimento Internacional
O reconhecimento da Serra da Capivara como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1991 é um dos maiores legados de Niède. Suas descobertas contribuíram para a compreensão do povoamento das Américas, desafiando teorias estabelecidas. De acordo com suas pesquisas, há evidências de presença humana na região muito antes das teorias convencionais que colocam a chegada do Homo sapiens no continente por meio do Estreito de Bering há cerca de 13 mil anos.
Museus e preservação
O Parque abriga dois importantes museus: o Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza. O Museu do Homem Americano tem como objetivo divulgar a relevância do patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos e exibe ferramentas, esqueletos e urnas funerárias de mais de 11 mil anos. O Museu da Natureza, projetado pela própria Niède em colaboração com Marcello Dantas, apresenta a formação dos biomas da região, incluindo fósseis de animais gigantes.
O impressionante patrimônio natural
Além da riqueza arqueológica, o Parque Nacional da Serra da Capivara é conhecido por suas belezas naturais, como cânions que chegam a 200 metros de altura e platôs deslumbrantes. Os paredões que delimitam o parque são resultado da movimentação das placas tectônicas da Terra, um fenômeno que ocorreu há cerca de 200 milhões de anos. A fauna local, que inclui 33 espécies de mamíferos não voadores, muitas em risco de extinção, e 236 espécies de aves, mantém a biodiversidade da região vibrante e essencial para o ecossistema.
Legado de Niède Guidon
Nascida em 12 de março de 1933, em Jaú, São Paulo, Niède Guidon é reconhecida internacionalmente por sua dedicação e inestimáveis contribuições à arqueologia. Seu trabalho ardente e perseverante possibilitou a descoberta de mais de 800 sítios arqueológicos com vestígios da presença humana na América. Além de suas contribuições acadêmicas, recebeu homenagens que vão desde nomes de pássaros a opera, refletindo a magnitude de sua influência e importância.
O legado de Niède Guidon será sempre lembrado como um símbolo de perseverança e amor ao conhecimento, tão precioso para a história não apenas do Brasil, mas da humanidade como um todo. O Parque Nacional da Serra da Capivara, por sua vez, continuará a ser um local de preservação e apreço pelo passado, em memória de sua fundadora.
Com a nova data para as celebrações ainda a ser anunciada, muitos aguardam ansiosamente para honrar a vida e o trabalho de Niède Guidon e tudo que ela fez pelo patrimônio cultural do Brasil e do mundo.