Em uma declaração que chamou a atenção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou seu antecessor Jair Bolsonaro durante uma coletiva conjunta com o presidente francês Emmanuel Macron, em Paris. O comentário de Lula surge em um contexto de reaproximação entre Brasil e França, uma relação que havia esfriado durante o governo Bolsonaro, marcado por tensões diplomáticas e ataques a figuras políticas francesas.
A relação conturbada entre Bolsonaro e Macron
A relação entre Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron foi amplamente marcada por desentendimentos. Em julho de 2019, Bolsonaro criticou publicamente a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, e chegou a cancelar um encontro com o chanceler da França. Durante a coletiva em Paris, Lula fez referência a esses eventos, afirmando: “O Brasil nunca mais terá um presidente que se esconde na cadeira de barbeiro para não receber o presidente da França.” Essa declaração ressaltou a mudança de estilo na abordagem diplomática brasileira sob Lula.
O fortalecimento das relações Brasil-França
Lula chegou à França com o objetivo de fortalecer as relações bilaterais e tratar de questões internacionais, como os conflitos na Ucrânia e Gaza. Ele foi recebido pelo ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot, e sua visita é a primeira de um presidente brasileiro desde 2012. O encontro com Macron também vai abordar a questão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que Lula pretende finalizar em seu mandato de seis meses à frente do bloco sul-americano.
Mercosul e União Europeia: desafios e perspectivas
O acordo entre Mercosul e União Europeia é um ponto central nas discussões. Durante a coletiva, Lula pediu para Macron “abrir seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo”, destacando a necessidade de concluir a negociação até o fim de seu mandato no Mercosul. No entanto, Macron expressou preocupações, afirmando que o acordo pode trazer riscos aos agricultores franceses. Ele manifestou a necessidade de equilíbrio entre o comércio livre e a proteção dos interesses locais.
Questões ambientais em pauta
Além do comércio, o aquecimento global e as normas sobre agrotóxicos também foram temas discutidos. Macron destacou que há diferenças significativas entre as normas de uso de agrotóxicos no Brasil e na Europa e afirmou que é preciso melhorar as cláusulas que garantam proteção ambiental. “Precisamos respeitar a coerência das nossas ambições de defesa do clima”, comentou o presidente francês.
Lula também deverá levantar questões sobre a nova lei antidesmatamento da União Europeia, que proíbe a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas, destacando as dificuldades que isso pode causar para a economia brasileira, principalmente em relação a produtos como café e soja.
A agenda da visita e a reaproximação bilateral
A visita oficial de Lula à França inclui uma série de eventos, como uma cerimônia no Palácio dos Inválidos e um banquete de Estado no Palácio do Eliseu. Este compromisso representa um desejo de reinstaurar a parceria estratégica entre os dois países, que teve seu auge em 2006, durante os mandatos de Lula e Jacques Chirac.
A expectativa é que sejam assinados cerca de 20 atos durante a visita, abrangendo diversas áreas como meio ambiente, ciência e tecnologia, educação e segurança pública. Lula tem a intenção de discutir também parcerias em defesa e saúde, refletindo um amplo interesse em fortalecer os laços entre Brasil e França.
Desafios à vista
Entretanto, a situação não é simples, pois a pressão sobre Macron vinda dos agricultores franceses pode dificultar o diálogo sobre o acordo Mercosul-UE. As tensões geopolíticas resultantes das decisões dos Estados Unidos e a necessidade de uma ação conjunta para lutar contra as mudanças climáticas também estão na pauta das conversas, ressaltando a complexidade das relações internacionais atuais.
Assim, a visita de Lula à França não só simboliza uma nova era para a diplomacia brasileira, como também apresenta desafios significativos que exigirão habilidade e paciência na construção de um entendimento mútuo entre as nações.