O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, trouxe à tona um acirrado debate ao classificar a ditadura militar como uma “questão interpretativa”. A declaração, feita durante uma entrevista à Folha de S.Paulo, não apenas provocou reações adversas em diversas esferas políticas, mas também ressuscitou discussões sobre um dos períodos mais sombrios da história brasileira.
A polêmica declaração
Durante a entrevista, Zema afirmou: “Eu acho que tudo é questão de interpretação”. O governador optou por não elaborar mais sobre suas experiências em relação ao regime militar, preferindo deixar a discussão para os historiadores. “Achei que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar, hoje, com Minas Gerais,” declarou.
Essa resposta evasiva foi interpretada como uma tentativa de amenizar os crimes cometidos durante a ditadura militar, o que rapidamente gerou reações negativas nas redes sociais e na imprensa.
Cenas de reações políticas
João Amoêdo, fundador do partido Novo, foi um dos primeiros a criticar as declarações de Zema. Em um post nas redes sociais, ele o acusou de oportunismo político e abandono de princípios. “Para conquistar votos bolsonaristas, vale tudo: comer banana com casca, ignorar os fatos e ser vassalo de Bolsonaro,” escreveu Amoêdo, que se distanciou do partido após apoiar Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
O vereador de Belo Horizonte, Pedro Rousseff (PT), também manifestou seu descontentamento ao classificar o comportamento do governador como “vergonhoso”, ressaltando que o comentário de Zema minimizava a existência da ditadura. “Zema hoje falou que a ditadura nunca existiu,” afirmou.
Reações na Câmara Municipal
Duda Salabert, deputada federal pelo PDT em Minas Gerais, lançou um questionamento contundente: “Ele está sendo burro ou mau caráter?”. Já Lohanna França, deputada estadual pelo PV-MG, reforçou a crítica, lembrando que a falta de opiniões fundamentadas sobre o tema histórico é um sinal de desrespeito com as vítimas da ditadura.
“Fico pensando se ele acha que ficar mais de 20 anos sem votar para presidente é questão de interpretação,” ironizou. Este tipo de questionamento enfatiza a importância de reconhecer a dor e o sofrimento infligidos a inúmeras famílias durante esse período difícil.
Impactos na política mineira
A repercussão das declarações de Zema, mesmo entre aliados, não foi positiva. Governistas que conversaram com o GLOBO sob a condição de anonimato expressaram preocupação de que suas palavras possam prejudicar a imagem do vice-governador Mateus Simões (Novo). Este último, considerado o sucessor natural de Zema, busca manter uma imagem de moderação dentro de um eleitorado central, contrastando com a tentativa do governador de se afirmar dentro do campo conservador.
Quando questionado sobre o assunto, Simões se esquivou de comentar diretamente as declarações de Zema. “Não comento falas em geral. Ainda mais as do governador,” disse.
Zema e sua ambição presidencial
Além de sua atuação em Minas Gerais, Zema tem se projetado como um potencial candidato à presidência nas eleições de 2026, buscando consolidar seu espaço na direita brasileira. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, figuras como o governador de Minas estão se posicionando para ocupar esse vácuo político. Outros nomes fortes no horizonte incluem Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná).
O governador intensificou recentemente seus acenos ao eleitorado bolsonarista, apoiando a anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro e participando de manifestações em apoio a Bolsonaro. À medida que se prepara para uma candidatura presidencial, suas declarações têm se tornado cada vez mais polêmicas e polarizadoras, levantando questões sobre a moralidade e a ética de suas posições.
No fim das contas, a declaração de Zema reabre um ferida histórica que muitos preferem evitar e evidencia as tensões que ainda permeiam a sociedade brasileira. O debate sobre o legado da ditadura militar parece longe de chegar a um consenso, e figuras políticas como Zema precisam navegar cuidadosamente em um campo minado de narrativas e interpretações.