Na quinta-feira (5), o Allianz Parque, em São Paulo, foi palco do Global Agribusiness Festival (GAFFFF), um evento que se apresentou como o “maior ponto de encontro de cultura agro do mundo”. O festival não apenas promoveu a cultura do agronegócio, mas também se transformou em um importante palanque para governadores de partidos de direita que já são cotados para as eleições presidenciais de 2026. Em contrapartida, as ausências dos representantes do governo federal e de governadores aliados ao presidente Lula marcaram o tom do evento.
A ausência da esquerda e a presença da direita
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, discursaram para um público de 30 mil pessoas, que pagaram pelo menos R$ 1 mil pelo ingresso. No entanto, a expectativa de que três governadores mais próximos do presidente Lula e outros dois ministros participassem do evento não se concretizou. As ausências incluíram figuras de destaque como os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Celso Sabino (Turismo).
O descontentamento com o governo federal
Os discursos proferidos pelos governadores presentes foram uníssonos em sua crítica ao governo federal e ao apelo por “novos ares”. Tarcísio, que mantém a intenção de se reeleger em São Paulo, destacou a importância de flexibilizar as regras de licenciamento ambiental, afirmando que sua gestão investe na preservação ambiental. Essa proposta, defendida no Senado por Tereza Cristina (PP-MS), contrasta com a posição de ambientalistas e da ministra Marina Silva (Rede), que se opõem ao texto.
Críticas ao Judiciário e à política ambiental
Caiado, por sua vez, reforçou sua postura de “tolerância zero” em relação ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e mencionou a necessidade de uma política de segurança pública mais robusta dentro de Goiás. Durante seu discurso, ele também criticou a narrativa ocidental sobre a exploração de petróleo, sugerindo que enquanto outros países se beneficiam, o Brasil é penalizado por razões ambientais. “Os Estados Unidos produzem petróleo no Alasca”, disse, instando a plateia a arregaçar as mangas para mudar a situação nas próximas eleições.
Expectativas da classe agro
Presente no evento, Zema discutiu a importância do agronegócio para a balança comercial brasileira, afirmando que Minas Gerais foi o estado que mais contribuiu para o saldo no ano anterior. “No ano que vem, teremos uma virada que fará com que o agro seja valorizado como merece”, declarou, indicando um tom otimista para os empresários do setor.
Após os discursos, Tarcísio interagiu com os presentes, participando de aulas de churrasco e se unindo à festa, que incluía shows de artistas sertanejos como Leonardo e a dupla Fernando e Sorocaba. Os organizadores do evento, que esperavam que a maior parte do público comparecesse apenas à noite, destacaram que o festival tinha uma variedade de expositores e atividades voltadas para o agronegócio.
Reflexões sobre o papel do Judiciário e Legislativo
Um dos momentos mais aclamados pelos participantes foi quando o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) criticou a atuação do Poder Judiciário, ressaltando que este não respeita as instituições. “Queremos que o agro tenha portas abertas para dizer o que pode ser feito”, afirmou, gerando aplausos entusiasmados da plateia.
O papel da organização do evento
O GAFFFF, realizado pela XP Investimentos e pela Corteva, com a organização da consultoria agrícola Datagro, se demonstrou uma plataforma útil para candidatos e representantes do agronegócio se engajarem. Os ingressos caros, que variavam de R$ 1 mil a R$ 1,8 mil, foram vistos como um investimento em um espaço que oferece visibilidade e conexão com os principais líderes da indústria e da política nacional.
Com as vozes da direção de direita se destacando, o festival deixou claro que as divisões políticas se estendem ao setor agrícola, refletindo um cenário carregado de expectativas e rivalidades vistas em preparação para as eleições que se avizinham.
