A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu na terça-feira a prisão preventiva da deputada Carla Zambelli (PL-SP) ao Supremo Tribunal Federal (STF), após ela anunciar que havia deixado o país. Condenada a dez anos de prisão pela Corte, Zambelli indicou que permanecerá na Itália, onde também possui cidadania. De lá, a parlamentar deve adotar a mesma estratégia de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do mandato para se dedicar a ações políticas nos Estados Unidos contra o Judiciário.
Saída do Brasil e os novos desdobramentos
Zambelli deixou o país antes do julgamento de todos os recursos contra sua condenação, o que poderia resultar em prisão e na perda do mandato parlamentar. Agora, caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no qual foi condenada, decidir sobre o pedido da PGR. Caso o magistrado aceite, a Câmara será comunicada e decidirá se mantém ou não a prisão.
A sentença foi motivada por seu envolvimento em invasões ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Zambelli e o hacker Walter Delgatti foram responsáveis por elaborar e inserir diversos documentos falsos no sistema do CNJ, segundo a PGR. Entre essas peças estava um mandado de prisão forjado contra Moraes, redigido como se tivesse sido assinado pelo próprio magistrado. O documento foi incluído no Banco Nacional de Mandados de Prisão.
Passaporte e cidadania italiana
Quando saiu do Brasil, Zambelli não tinha restrições na Justiça que a impedissem de deixar o país e estava com o passaporte. Em agosto de 2023, ela chegou a ter o passaporte retido a mando de Moraes no âmbito da ação penal que a condenou. Contudo, posteriormente, o documento foi devolvido, permitindo sua saída do país.
A posição de Zambelli ao anunciar a saída do Brasil foi de enfrentamento. À CNN Brasil, ela afirmou que estava nos EUA para tratar da saúde, mas ressaltou que não seria presa, pois possui cidadania italiana que a torna intocável na Itália. “Eu percebo que nós não temos mais justiça no Brasil”, declarou, assegurando que em território italiano não poderia ser extraditada.
Possibilidade de retorno e planos no exterior
Sobre uma possível volta ao Brasil, Zambelli disse que este retorno só ocorreria quando o Brasil “voltar a ser democrática” ou se seu processo for suspenso pela Câmara. À rádio Auriverde, a deputada mencionou que pretende viajar pelo continente europeu e se reunir com autoridades para denunciar o que chama de distorções na realidade brasileira.
No pedido encaminhado ao STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que a imposição da prisão cautelar não representa antecipação da pena imposta a ela pela Primeira Turma, mas uma medida necessária para garantir a aplicação da lei. Gonet também pediu que o nome da parlamentar seja incluído na difusão vermelha da Interpol, além da suspensão do passaporte brasileiro e a comunicação aos países sobre a situação.
Investigação sobre a saída e seus motivos
Investigadores que acompanham o caso trabalham com a hipótese de que Zambelli deixou o país por rota terrestre que incluiu a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, e a fronteira com a Argentina. Segundo apurações preliminares, Zambelli teria atravessado até a cidade de Puerto Iguazú, a apenas 16 quilômetros do centro de Foz do Iguaçu, antes de seguir rumo a Ezeiza, onde fica o aeroporto internacional de Buenos Aires. De lá, embarcou com destino aos Estados Unidos.
O advogado de Zambelli, Daniel Bialski, confirmou que foi informado da viagem, alegando que a parlamentar deixou o país “para dar continuidade a um tratamento de saúde”. Entretanto, ele optou por deixar a defesa da deputada “por motivo de foro íntimo”.
Conflitos políticos e apoio ao redor de Zambelli
Na véspera de deixar o Brasil, Zambelli expressou chateação com Jair Bolsonaro, lamentando a falta de apoio do ex-presidente em sua defesa e em uma campanha de arrecadação de recursos. Ela mencionou ter uma dívida de cerca de R$ 3 milhões com a Justiça e planos de lançar uma linha de cosméticos para arrecadar dinheiro. Parlamentares da sigla, incluindo aliados de Bolsonaro, tentaram intermediar o relacionamento entre Zambelli e o ex-presidente.
Zambelli, que ganhou proeminência política com o movimento “Nas Ruas”, um grupo que pressionou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), continua a ser uma figura controversa no cenário político brasileiro. Enquanto suporte e críticas surgem, o futuro político da deputada parece cada vez mais incerto.
Como os desdobramentos dessa situação continuam a se desenvolver, o Brasil observa com atenção a narrativa ao redor de Carla Zambelli e as implicações de sua saída do país.