No início da madrugada desta quarta-feira (4), o Piauí perdeu uma de suas maiores figuras na arqueologia e preservação cultural: a renomada Niède Guidon. A arqueóloga, que fundou o Parque Nacional da Serra da Capivara, faleceu aos 92 anos em São Raimundo Nonato, no Sul do estado. O governador, Rafael Fonteles (PT), decretou luto oficial de três dias em reconhecimento à sua contribuição inestimável à ciência e à preservação do nosso patrimônio histórico e ambiental.
A trajetória de Niède Guidon
Natural de Jaú, São Paulo, Niède Guidon nasceu em 12 de março de 1933, filha de pai francês e mãe brasileira. Formou-se em história pela Universidade de São Paulo (USP) em 1959 e, após lecionar na França, retornou ao Brasil em 1970. Sua volta ao país foi marcada por um encontro que mudaria o curso de suas pesquisas: as impressionantes pinturas rupestres de São Raimundo Nonato, que datam de até 30 mil anos.
Guidon dedicou suas pesquisas ao estudo e à conservação desses vestígios da história humana, e obteve seu doutorado em pré-história pela Universidade de Paris em 1975. Seus estudos revolucionaram a percepção sobre o povoamento das Américas, estabelecendo que a ocupação humana na região é muito mais antiga do que se pensava anteriormente.
A importância da Serra da Capivara
O Parque Nacional da Serra da Capivara, fundado por Guidon, foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. A decisão foi fruto do acervo arqueológico inestimável encontrado na região, que revela traços da vida e da cultura de povos antigos. A pesquisa de Niède não só destacou a relevância das obras rupestres, mas também reforçou a necessidade de conservação ambiental e cultural no Brasil.
Reconhecimento e homenagens
A morte de Niède Guidon gerou uma onda de tristeza e homenagens por todo o Brasil. O governador Rafael Fonteles expressou seu pesar em nota oficial: “Recebemos com tristeza a notícia do falecimento da professora, pesquisadora e arqueóloga Niède Guidon. Sua contribuição seguirá inspirando gerações. Que Deus a receba e conforte familiares, amigos e admiradores”. Além disso, prefeituras de Coronel José Dias e São Raimundo Nonato, localidades que abrigam o parque, também se manifestaram formalmente lamentando a perda da arqueóloga.
A comunidade acadêmica e organizações ligadas ao patrimônio cultural destacaram o legado imensurável de Niède. Suas descobertas e esforços pela preservação irão continuar a inspirar novas gerações de arqueólogos e historiadores, além de trazer à tona a importância da conservação do meio ambiente e da cultura histórica.
Um legado que transcende fronteiras
Niède Guidon é reconhecida não apenas no Brasil, mas mundialmente, como uma mulher visionária que desvendou segredos do nosso passado e lutou pela proteção da herança cultural e natural do país. Sua história é um exemplo de dedicação e paixão pela ciência e pela cultura, impulsionando mudanças significativas na forma como vemos nossa história e nosso patrimônio.
O futuro da arqueologia no Brasil
Com a partida de Niède, o Brasil enfrenta o desafio de continuar seus esforços de preservação e pesquisa numa sociedade que frequentemente ignora as pérolas de conhecimento de seu passado. A arqueóloga servirá como uma lembrança incessante da necessidade de valorização de nossos bens culturais e da importância da educação e contínua pesquisa nesse campo.
A vida de Niède Guidon não deve ser lembrada apenas pela sua perda, mas pela luz que ela deixou na trajetória da arqueologia brasileira e na conservação do patrimônio cultural. O Parque Nacional da Serra da Capivara permanecerá como um testemunho duradouro de suas contribuições e um símbolo do seu legado eterno.