Na última sexta-feira, 30 de maio, o Palácio São Calisto em Roma foi palco de um simpósio promovido pelo Pontifício Comitê para a Jornada Mundial das Crianças (JMC), com foco na preparação para o grande evento de 2026. O cardeal José Tolentino de Mendonça fez uma provocativa reflexão: “A infância, em sua realidade nua e frágil, deve ser assumida como um tema concreto pela Teologia”. Essa afirmação ressalta um momento significativo para a Igreja, que busca cada vez mais incluir a voz das crianças em sua prática e ensino.
Um passo histórico para a Igreja
A Jornada Mundial das Crianças, idealizada pelo Papa Francisco, representa um marco nas relações da Igreja com os pequenos. Em sua palestra, lida pelo padre Antonio Spadaro, o cardeal Tolentino enfatizou que este evento fornecerá uma nova perspectiva, colocando as crianças como sujeitos ativos na vida eclesial, em vez de meros expectadores. “As crianças são a profecia viva e vibrante do Evangelho”, afirmou, ao discorrer sobre o essencial papel que elas desempenham na vida comunitária e espiritual da Igreja.
Dados alarmantes sobre a infância no mundo
O evento também trouxe à luz questões alarmantes sobre a realidade da infância no século XXI. Durante a introdução, o padre Spadaro compartilhou estatísticas que evidenciam o sofrimento das crianças: “Cerca de 400 milhões de crianças vivem em áreas de conflito e 13.000 morrem todos os dias, por causas que poderiam ser evitadas”. Essas cifras são um apelo urgente para a construção de uma teologia que não apenas compreenda, mas atue em prol dos atletas já esquecidos da sociedade.
Um compromisso da Igreja com as famílias
Durante o simpósio, Gleison de Paula Souza, secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, reforçou a responsabilidade da Igreja em cuidar das crianças. “Os pequeninos recordam-nos que a Igreja é mãe e, como tal, se sente plenamente responsável pela sua tutela, proteção e crescimento humano e espiritual. Trata-se de uma missão que a Igreja compartilha com os pais e as famílias, que estão por trás de cada criança”, destacou. Essa aliança entre a Igreja e as famílias é vista como fundamental para o desenvolvimento saudável da infância.
A infância como um dom para ser cultivado
O fato da história e da teologia não serem apenas abstratas, mas também profundamente humanas, foi enfatizado pelo padre Michele Gianola, da Conferência Episcopal Italiana. Ele fez uma analogia com a semente lançada à terra, que, mesmo sob a neve, guarda em si o potencial de florescer na primavera. “A infância e a adolescência devem ser vistas sob duas perspectivas, ou seja, como um dom e como uma tarefa: a tarefa de proteger e fazer florescer a semente da vida, semeada em cada criança”, afirmou.
Reconhecendo a invenção da infância pelo Cristianismo
A discussão se estendeu à noção de infância como uma construção histórica. A professora Marina D’Amato, especialista em Sociologia da Infância, lembrou que a ideia de ser criança foi “inventada” no contexto do Cristianismo. “O ser criança foi inventado no século I d.C., quando os novos valores do Cristianismo separaram adultos e crianças devido ao conceito de pudor e responsabilidade”, comentou. Essa distinção ajudou a fomentar uma nova compreensão da infância e de suas necessidades, estabelecendo uma nova abordagem em relação à educação e proteção dos pequenos.
A infância sob ameaças contemporâneas
A escritora Dacia Maraini também trouxe uma perspectiva crítica e emocionante ao abordar o sofrimento infantil no mundo atual. Em sua fala, ela destacou as tragédias que crianças enfrentam em lugares de conflito como Gaza, Sudão e Ucrânia. Para ela, a Igreja, representada por líderes como o Papa Francisco, tem o papel de escutar as feridas dessas crianças e denunciá-las, tornando-se um espaço de acolhimento e justiça.
Concluindo o simpósio, a mensagem foi clara: a proteção da infância deve ser uma prioridade não apenas na Igreja, mas em toda a sociedade. À medida que nos preparamos para a Jornada Mundial das Crianças em setembro de 2026, o compromisso com as crianças como protagonistas é um desafio que se transforma em uma esperança renovada para todos.