A atividade econômica brasileira apresenta sinais de desaceleração, conforme dados do primeiro trimestre, aumentando a expectativa de que o Banco Central comece a reduzir a taxa Selic em breve. Apesar da demanda interna aquecida, indicadores sugerem que o impacto do aperto monetário ainda não se materializou completamente na economia.
Resiliência da economia e o desafio do BC
Segundo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a resposta da atividade econômica à alta de juros é uma informação crucial para a calibragem da política monetária. Ele destacou que a resiliência da economia tem sido ponto de atenção, mesmo diante do aumento da taxa básica de juros.
Apesar de sinais de desaceleração, o excesso de demanda em relação à oferta (hiato do produto positivo) não é tão acentuado quanto em outros momentos históricos, como entre 2010 e 2014, avaliam especialistas. A principal preocupação do BC atualmente não é tanto o aquecimento econômico, mas a baixa confiança dos agentes econômicos na manutenção da meta de inflação de 3%, refletida nas expectativas inflacionárias de longo prazo, que atualmente chegam a quase 3,8% para 2029.
Risco fiscal e câmbio
Outro fator que influencia a política monetária é o risco fiscal, provocado pelas políticas do governo. A desconfiança quanto ao compromisso com a disciplina fiscal impede uma ação mais firme na taxa de câmbio e nas expectativas de inflação de curto prazo. Apesar de o real não ter apresentado valorização significativa frente às moedas de outros países emergentes, o Brasil mantém juros elevados para tentar equilibrar a demanda e o câmbio.
Perspectivas para a demanda e o mercado de trabalho
Embora o consumo das famílias tenha registrado crescimento no início deste ano, parte desse avanço está relacionada à base fraca do trimestre anterior, influenciada pela instabilidade do dólar em dezembro. A importação de bens de capital, incluindo plataformas de petróleo, também elevou o ritmo de investimentos, o que pode contribuir para menor risco inflacionário no futuro.
Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido mantém a pressão sobre os salários, elevando as dúvidas sobre a capacidade do BC de reduzir a inflação sem elevar ainda mais os juros. Deputados e setores do mercado tentam destravar medidas de arrecadação para melhorar a arrecadação, enquanto o governo planeja lançar programas de financiamento para entregadores e outros setores.
Impacto na inflação e expectativas futuras
O maior desafio do Banco Central é fazer a demanda responder aos juros elevados, compensando o impacto do risco fiscal na inflação. Como o efeito do aperto monetário costuma se manifestar com atraso de pelo menos dois trimestres, a desaceleração nos dados do PIB do primeiro trimestre reforça a expectativa de que a política de juros deve continuar atuando para controlar a inflação.
O presidente Lula afirmou que o BC “logo logo” começará a reduzir a Selic, demonstrando confiança na atuação do presidente Galípolo. Mesmo com sinais de desaceleração, o consumo e o investimento ainda apresentam força, porém o ritmo deverá desacelerar à medida que os juros seguirem altos.
Perspectivas para o próximo período
Analistas avaliam que o atual momento demanda cuidado, pois o comportamento dos preços, expectativas inflacionárias e o risco fiscal precisam estar alinhados para que a inflação fique sob controle sem prejudicar o crescimento. Os efeitos das medidas atuais ainda devem se intensificar, indicando um cenário de maior suavização na atividade econômica daqui para frente.
Para acompanhar os avanços e os próximos passos das políticas econômicas, confira a análise completa na coluna da Zeina Latif.
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