Brasil, 5 de junho de 2025
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A queda da esquerda na comunicação política brasileira

Estudo mostra que a esquerda perdeu protagonismo nas redes sociais, refletindo um desafio em sua comunicação política.

No Brasil, a comunicação política da esquerda enfrenta um momento crítico. Análises recentes evidenciam a perda de impacto e visibilidade nos debates, especialmente nas redes sociais, onde o discurso de Luiz Inácio Lula da Silva e de outros líderes se vê envolto em crises e reveses. A consultoria Ativaweb aponta que, apenas em 2025, Lula perdeu cerca de um milhão de seguidores no Instagram e Facebook, sinalizando um distanciamento crescente entre o público e a mensagem da esquerda.

A crise da comunicação da esquerda nas redes sociais

Os desafios enfrentados pelo governo Lula são diversos, com repercussões negativas que vão desde a crise do Pix até fraudes no INSS. Essa nova realidade tem levado especialistas a avaliar a comunicação da esquerda como exaurida, refletindo a dificuldade de um modelo que se adapte a um ambiente digital dominado por narrativas de direita radical. Enquanto a esquerda historicamente inovou em suas estratégias de comunicação — desde a distribuição de panfletos até a criação de jornais alternativos ao longo do século XVIII —, as dificuldades atuais revelam uma falta de adaptação às novas dinâmicas midiáticas.

Marcelo Alves, professor da PUC-Rio, destaca que a formação de vozes concentradas e a criação de movimentos que competem com a mídia convencional foram históricas. No entanto, o cenário político atual limita essas vozes, pois a direita detém não apenas a maioria no parlamento, mas também uma presença mais assertiva nas redes sociais.

O impacto da mudança social e a busca por novos símbolos

Desde a Revolução Francesa, táticas de comunicação voltadas para a mobilização da classe trabalhadora têm sustentado a narrativa da esquerda. Contudo, a transformação da sociedade contemporânea, agora mais individualista e menos industrial, resulta na dissolução de estruturas sociais que antes consolidavam a base da esquerda.

A indagação sobre a eficácia do uso de símbolos e imagens, que remete a figuras históricas como Karl Marx e Che Guevara, surge como um ponto de reflexão. Os símbolos políticos, mesmo aqueles que antes garantiam um forte reconhecimento e adesão, hoje enfrentam a saturação do discurso contemporâneo, que muitas vezes é mais emocional do que substancial.

“A base social da esquerda não existe mais, e a dinâmica atual favorece extremismos, colocando a esquerda em uma situação desfavorável”, observa Afonso de Albuquerque, professor na UFF. Este entendimento se associa ao dilema de compreender que, apesar de esforços na comunicação política, a narrativa da esquerda encontra barreiras impostas pelo ambiente das redes sociais e pela estrutura do próprio Congresso.

Erros de cálculo e estratégias falhas

Paolo Demuru, doutor em Semiótica, acrescenta que a esquerda comete erros de comunicação que são independentes das configurações das redes sociais. Por exemplo, o uso do slogan “Sem anistia” relacionado ao projeto de lei sobre o ataque à Praça dos Três Poderes, que nas palavras de Demuru se torna contraproducente ao não identificar a palavra como uma questão cada vez mais presente no debate público.

Além disso, a profissionalização da comunicação política, que ganhou força com a vitória de Lula em 2002, parece enfrentar um retrocesso. “A institucionalização de discursos tem sua importância, mas precisamos entender que a realidade da comunicação e da política é muitas vezes mais complexa do que apenas adaptar antigas estratégias a novos meios”, afirma.

Conectando passado e futuro

Como resultado, a comunicação política da esquerda, que sempre teve um papel importante na mobilização e resistência, agora precisa encontrar um novo caminho. O retrocesso em simblos e discursos não significa que não houve ganhos anteriormente, mas sim uma adaptação contínua às novas realidades das redes sociais e das mudanças sociais que afetam a percepção política.

Assim, enquanto se busca revitalizar a comunicação da esquerda, será necessário um novo entendimento sobre o espaço atual em que se desenrola a política. O futuro depende de uma reimaginação das estratégias mediáticas, em uma era mobilizada por algoritmos e dinâmicas sociais que favorecem discursos rápidos e emocionais, em detrimento de narrativas mais profundas e significativas.

A transformação da comunicação da esquerda é crucial, não apenas para revitalizar a sua presença nas redes sociais, mas também para reconectar as bases e o eleitorado que sentem a ausência de uma voz representativa nos debates atuais.

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