O ex-jogador Zico, uma das lendas do futebol brasileiro, expressou recentemente suas preocupações sobre a transferência precoce de jogadores japoneses para clubes europeus. Zico, que dedicou boa parte de sua carreira ajudando no desenvolvimento do futebol no Japão, destacou que essa tendência pode trazer consequências negativas semelhantes às que muitos atletas brasileiros enfrentaram. Sua experiência tanto como jogador quanto como treinador e consultor no Japão lhe confere uma perspectiva valiosa sobre esse tema.
A relação de Zico com o futebol japonês
Após encerrar sua carreira como jogador no Japão, Zico não apenas lançou a J. League profissional em 1993, mas também desempenhou um papel central na evolução do futebol japonês ao longo das últimas três décadas. Como treinador da seleção nacional de 2002 a 2006, ele viu a transformação do Japão de uma nação iniciando no futebol para um participante regular das Copas do Mundo, com jogadores se destacando em clubes de renome na Europa.
Em suas observações atuais, Zico mantém sua ligação com o Kashima Antlers, onde atua como consultor, contribuindo significativamente para seu sucesso. Segundo ele, a mudança de jogadores para a Europa pode ser vista como um desenvolvimento “positivo”, desde que os atletas façam essa transição no momento certo.
A migração precoce e suas consequências
Aos 72 anos, Zico afirmou que, embora a busca por novas experiências seja válida, muitos jogadores brasileiros se mudam para a Europa depois de apenas alguns jogos em suas ligas nacionais. Isso pode resultar na perda de identidade e raízes culturais desses jogadores. Ele ressaltou que a resiliência é crucial, pois muitos retornam ao Brasil sem ter alcançado seu potencial por não terem a oportunidade de jogar regularmente.
“Jogadores brasileiros vão para a Europa cedo demais, perdendo suas raízes. Se um jogador não for resiliente, ele volta porque não atingiu todo o seu potencial lá. Aconteceu na Alemanha, aconteceu na Itália, e isso está se repetindo com muitos jogadores japoneses”, alertou Zico à AFP em Kashima.
Comparações com a história do Japão no futebol
O ex-jogador acredita que a situação dos atletas japoneses lembra os tempos antigos da J. League, quando jogadores do Japão eram vistos como estratégias de marketing por clubes europeus. A diferença, segundo Zico, é que, atualmente, muitos atletas estão se destacando e se tornando titulares em suas equipes europeias, enquanto durante sua gestão como técnico, isso não ocorria com a mesma frequência.
“Nós tínhamos jogadores na Europa, mas eles jogavam apenas alguns minutos, não eram titulares como são hoje. Isso faz uma grande diferença”, comentou, explicando que a experiência adquirida em campo primeiramente é essencial para um retorno bem-sucedido à seleção japonesa.
A importância de contratações de qualidade
Zico também discutiu a dinâmica de contratações no futebol japonês, observando que a chegada de jogadores de elite, como Andrés Iniesta ao Vissel Kobe, por exemplo, é uma exceção em um panorama onde contratações de alto nível são raras. Ele acredita que a presença de atletas de renome não só eleva o desempenho dos demais jogadores, mas também motiva a torcida e aumenta o perfil do clube.
“É um investimento. Ter um jogador do nível de Iniesta no clube motiva a todos. Você aprende porque ele é um vencedor, e isso melhora o desempenho dos outros jogadores”, afirmou Zico, exaltando a importância de referências positivas nos clubes.
Zico e o futuro do Kashima Antlers
Atualmente, Zico é parte fundamental do Kashima Antlers, clube que ajudou a moldar desde seus primórdios na segunda divisão até os dias de hoje, onde é visto como um dos mais vitoriosos da J. League. Ele expressa um profundo amor e carinho pela equipe, a qual trata como um “filho”, destacando que testemunhou seu crescimento e evolução ao longo dos anos.
“Eu vi nascer, crescer e se tornar o que é agora. Conseguimos usar minha experiência no futebol profissional e colocá-la em prática aqui”, disse Zico, evidenciando sua conexão emocional com o clube e ressaltando seu compromisso contínuo em moldar futuras gerações de jogadores.
Em suma, Zico, ícone do futebol brasileiro e da história do esporte no Japão, continua a influenciar positivamente o cenário esportivo, trazendo à tona importantes reflexões sobre a migração de jogadores e a necessidade de manter as raízes enquanto se busca o sucesso no exterior.