No último depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, confirmou que participou de reuniões no Palácio da Alvorada, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiu planos com conteúdo golpista. Baptista Junior, que depôs como testemunha de acusação na Primeira Turma da Corte, revelou ainda que o então comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, fez uma ameaça ao ex-presidente, afirmando que o prenderia caso tomasse medidas consideradas inconstitucionais.
Relato do ex-comandante da Aeronáutica ao STF
Baptista Junior destacou que durante a audiência, a situação se desenrolou de maneira tensa. Ele declarou: “O general Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Logicamente ele não falou essa parte com agressividade com o presidente da República, mas colocou exatamente isso: ‘se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo’.” Essa declaração lança luz sobre as discussões que estavam ocorrendo em um momento conturbado da política brasileira, refletindo preocupações sobre a legalidade das ações do então presidente.
Condições que levaram às reuniões
As reuniões mencionadas pelo ex-comandante ocorreram após a derrota de Bolsonaro nas eleições. De acordo com Baptista Junior, os encontros começaram com a discussão sobre a possibilidade de decretar Garantia de Lei e da Ordem (GLO) ou mesmo implementar um estado de defesa ou de sítio. “A partir de um certo momento, eu comecei a ficar muito preocupado, por considerar que o objetivo dessas medidas era, na verdade, impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Baptista Junior, enfatizando sua crescente apreensão com o desenrolar dos fatos políticos.
Aumento da preocupação
O ex-comandante expressou que a preocupação começou a se intensificar entre os dias 11 e 14 de novembro, quando sentiu que as ações discutidas poderiam comprometer a transição de governo. Ele afirmou: “A partir de um momento, eu comecei a achar que o objetivo de qualquer medida dessa, de exceção, era, sim, para não haver a assunção pelo presidente que foi eleito.” Esta declaração revela que as atividades conspiratórias poderiam ter tido um papel central nas tentativas de manter Bolsonaro no poder.
A advertência ao ex-presidente
Durante seu depoimento, Baptista Junior informou que havia falado diretamente a Bolsonaro sobre a impossibilidade de sua permanência no cargo, independente do que pudesse acontecer no Brasil. Ele declarou: “Eu falei com o presidente Bolsonaro: aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente.” Essa afirmação ilustra a gravidade da situação e o desespero que permeava as discussões entre os altos comandos militares e o ex-presidente.
Reflexões sobre a democracia
O depor de Baptista Junior expõe ainda mais os dilemas enfrentados pelas instituições brasileiras, especialmente em tempos de crise política. O fato de um ex-comandante da Aeronáutica relatar a existência de discussões sobre ações golpistas e a necessidade de medidas de exceção levanta questionamentos sobre a resiliência da democracia no Brasil. O episódio também destaca a necessidade de robustez nas instituições democráticas e a proteção contra quaisquer tentativas de subverter a ordem constitucional.
Conclusão
O depoimento de Carlos Almeida Baptista Junior ao STF não apenas revela detalhes alarmantes sobre as intenções do ex-presidente Jair Bolsonaro durante as reuniões no Palácio da Alvorada, mas também acende um alerta sobre a saúde da democracia brasileira. A menção de ameaças feitas entre comandantes das Forças Armadas e o ex-presidente sugere um período crítico, onde a soberania do voto e a normalidade democrática estavam em risco. À medida que o país avança, a exploração desses eventos históricos se torna crucial para entender e fortalecer as instituições democráticas no Brasil.