A economia brasileira vem mantendo uma trajetória de crescimento acima do potencial desde 2021, impulsionada por estímulos fiscais e aumento do PIB, avaliou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. No entanto, sinais de desaceleração já começam a surgir, conforme os dados do PIB do primeiro trimestre.
Por que a economia brasileira permanece aquecida?
Segundo Honorato, a força da economia é resultado de dois fatores principais: o gasto público dos governos federal e estaduais e os estímulos fiscais realizados desde a pandemia. “Esses estímulos, incluindo transferências de renda e aumento do gasto público, estimularam o consumo, criando uma poupança que sustenta a atividade econômica”, explicou o economista em entrevista exclusiva.
Além disso, iniciativas como a PEC da transição, regularização de precatórios e ampliação de programas sociais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) contribuíram para reforçar a renda na população e manter o desemprego baixo, o que ajuda a manter a economia aquecida.
Sinais de desaceleração no curto prazo
Apesar do cenário de crescimento, os recentes dados mostram que a desaceleração já começou. Honorato destacou que o crescimento do PIB nos primeiros três meses de 2025 foi de apenas 0,2%, indicando uma moderada redução na velocidade do crescimento da economia.
“Há uma série de sinais de que a economia pode perder um pouco de fôlego, especialmente com o alinhamento de políticas monetária e fiscal”, afirmou. Os dados de importações e crédito também apontam para uma desaceleração, com aumento na inadimplência e menor crescimento na indústria, que é uma variável altamente sensível às taxas de juros.
Perspectivas futuras e impacto dos juros
O atual juro real, que está em torno de 9% ao ano, é o maior desde 2006, e deve atuar como um freio na atividade econômica nas próximas semanas. Honorato avalia que a política monetária, mesmo com o aumento das taxas de juros, ainda tende a influenciar positivamente o cenário para o segundo semestre, possibilitando uma redução das taxas de juros em dezembro, caso a economia continue apresentando sinais de menor ritmo.
“A expectativa é que, com a desaceleração, o Banco Central possa começar a cortar os juros ainda neste ano”, completou o economista, reforçando que a alta de juros foi necessária para conter a inflação, que, apesar de controlada, ainda representa um desafio para o cenário macroeconômico.
O papel dos estímulos fiscais e o risco de perda de força
Honorato reforça que, embora o estímulo fiscal esteja sustentando o crescimento, há limites. “Se as medidas de estímulo forem mantidas ou ampliadas, o risco é de que o crescimento continue acima do potencial, o que pode gerar desequilíbrios futuros”, alertou. Ele acredita que a combinação de efeito dos estímulos com a política monetária mais restritiva deve trazer a economia a um ponto de equilíbrio no médio prazo.
Impacto do cenário externo e inflação
O cenário internacional, marcado por incertezas e guerras comerciais, também influencia as perspectivas da economia brasileira. No entanto, Honorato destaca que a fraqueza do dólar e os preços mais contidos ajudam a aliviar a pressão inflacionária no país.
“Apesar das tensões globais, o impacto no Brasil tem sido relativamente moderado, pois o cenário externo favorece uma contenção inflacionária”, afirmou o economista, reforçando que a política de ajuste e os estímulos internos precisarão ser calibrados cuidadosamente para evitar uma sobreaquecimento ou uma desaceleração demasiada.
O que esperar para os próximos meses?
Honorato projeta que o crescimento do PIB deve ficar entre 2% e 2,5% em 2025, um avanço menor que no ciclo anterior, mas ainda compatível com um cenário de desaceleração controlada. Ele acredita que, diante da combinação de política monetária mais rígida e estímulos em ritmo menor, a economia brasileira passará por uma fase de ajuste até o fim do ano.
“A decisão do Banco Central de manter os juros elevados até que haja uma clara redução da inflação indica que o processo de arrefecimento ainda vai levar alguns meses”, finalizou o economista, enfatizando que o cenário externo e os estímulos terão papel fundamental para o comportamento da economia brasileira nos próximos períodos.