A frota de veículos em Campinas, uma das cidades mais populosas do interior de São Paulo, ultrapassou a impressionante marca de 1 milhão de unidades, incluindo carros, motos, caminhões e ônibus. Essa cifra alarmante, no entanto, não é motivo de celebração. Segundo o professor Creso de Franco Peixoto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o sistema de transporte atual está à beira do colapso. Ele questiona: “Onde nós vamos colocar todos esses veículos?”.
Aumento da frota e falta de infraestrutura
Um levantamento recente do G1, com base em dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), revela que, há duas décadas, Campinas contava com apenas 464,5 mil veículos. O crescimento para 1.000.403 veículos em abril de 2025 reflete uma ascensão preocupante, especialmente quando considerando que a metrópole tem aproximadamente 1,1 milhão de habitantes, quase um carro para cada residente.
Entre esses veículos, a maior parte é composta por automóveis, com 645 mil unidades, seguida de 141 mil motocicletas, 20,4 mil caminhões, 17,4 mil utilitários e 5,4 mil ônibus. A cidade enfrenta um verdadeiro desafio em termos de mobilidade, com a possibilidade de um colapso no sistema viário diante da crescente quantidade de automóveis.
Proposta de soluções para a mobilidade urbana
Creso destaca que, desde os anos 1960, houve uma mudança drástica na proporção de veículos por habitante no Brasil, que agora está chegando à paridade em Campinas. Essa situação gera uma pressão sem precedentes sobre as vias urbanas, resultando em congestionamentos e ineficiência no trânsito. Ele propõe que uma série de ações sejam discutidas, incluindo um reforço no transporte público e investimentos em transporte de massa.
A necessidade de uma nova abordagem para a urbanização das cidades também é enfatizada. Creso sugere um modelo em que as moradias estejam localizadas mais perto dos locais de trabalho, o que ajudaria a minimizar os deslocamentos longos e, consequentemente, reduziria o número de veículos nas ruas.
Desafios da implementação de sistemas de transporte público
O professor menciona que, apesar do metrô ser uma solução válida, sua implementação em Campinas é inviável devido ao alto custo. Em vez disso, ele sugere discutir a adoção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), com um modelo adaptado, ou a implementação de um sistema de Bus Rapid Transit (BRT) que integre ciclovias e outras formas de mobilidade.
Vinicius Riverete, presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), reforça que a nova licitação do transporte público, que está atrasada desde 2016, pode trazer um novo fôlego ao sistema. Assim que o BRT estiver em funcionamento pleno, ele acredita que a confiança dos usuários será restaurada, permitindo que o número de passageiros retorne aos patamares anteriores de mais de 800 mil passageiros por dia.
Urbanização e mudanças culturais
Creso destaca que é fundamental criar uma nova cultura de mobilidade, incentivando o uso de bicicletas e caminhadas como meios de locomoção. Com base em uma experiência em Buenos Aires, onde 30% da população passou a usar bicicletas, o professor defende que iniciativas semelhantes deveriam ser buscadas em Campinas.
A Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Campinas informou que o Plano Diretor prioriza o desenvolvimento orientado pelo transporte, focando na mobilidade ativa e no transporte coletivo. O plano prevê que novos empreendimentos residenciais sejam situados próximos aos eixos de transporte, o que pode facilitar a utilização desses sistemas e otimizar o fluxo urbano.
Conclusão
Em suma, o crescimento da frota de veículos em Campinas levanta questões críticas sobre a mobilidade urbana e a eficiência do sistema viário. Com as visões de especialistas como Creso Peixoto e Vinicius Riverete, é evidente que a solução deve envolver não apenas a construção de novas vias, mas um planejamento urbano que prioriza o transporte coletivo e a cultura de mobilidade sustentável. Em um cenário em constante mudança e evolução, a cidade de Campinas precisa repensar sua abordagem para evitar o colapso do trânsito e melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes.