A defesa de Jair Bolsonaro, que é réu por tentativa de golpe de Estado, buscou demonstrar ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente não deu ordens ou participou de qualquer investida contra as instituições democráticas. Uma das principais testemunhas apresentadas pelos advogados de Bolsonaro foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, membro do Republicanos. Em seu depoimento de oito minutos, Tarcísio afirmou que “jamais mencionou qualquer tentativa” de golpe. Curiosamente, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, não fizeram perguntas ao ex-ministro.
A estratégia de defesa e o papel de Tarcísio
O advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, foi o único a questionar Tarcísio, que atualmente é apontado como um possível candidato da direita nas próximas eleições. Desde sua eleição em 2022 com o apoio do ex-presidente, Tarcísio tem buscado uma posição equilibrada, publicamente apoiando Bolsonaro, ao mesmo tempo em que se distancia de bolsonaristas radicais. Este pêndulo político é essencial para sua reeleição, considerando que seu principal padrinho político está inelegível por oito anos.
Em sua defesa, Tarcísio destacou o governo de Bolsonaro, afirmando que ele enfrentou “cinco grandes crises” e ainda assim implementou muitas reformas. Citou eventos significativos como a tragédia de Brumadinho, a pandemia de Covid-19, e a guerra na Ucrânia, ressaltando que apesar das dificuldades, o país terminou seu mandato com superávit e geração de empregos.
O contexto da audiência
A audiência foi realizada por videoconferência e conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes. As declarações de Tarcísio alinham-se com suas postagens nas redes sociais, onde já havia se manifestado sobre a questão. Ele criticou a narrativa em torno de Bolsonaro, afirmando que carece de provas e que é importante ser responsável com acusações graves.
Após a decisão de março que tornou Bolsonaro réu, Tarcísio também se posicionou a favor do ex-presidente, reiterando que ele é a “principal liderança política do Brasil”. Além do governador, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) também defendeu Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente não tentou obstruir a transição de governo, e que todas as ações ocorreram dentro da normalidade.
Testemunhas e a desmontagem da narrativa golpista
Nogueira foi um dos ministros que coordenou a transição do governo Bolsonaro para o de Lula, relatou que pediu uma declaração de Bolsonaro com urgência para acalmar os caminhoneiros que obstruíam rodovias após as eleições de 2022. Esse pedido ocorreu dois dias após o segundo turno, revelando a preocupação com a situação naquele momento. Nogueira enfatizou que sempre buscou facilitar a transição.
Na mesma audiência, o ex-comandante militar do Palácio do Planalto, general Gustavo Dutra, também relatou a situação no Quartel-General do Exército, que já estava “praticamente vazio” dois dias antes dos atos golpistas, fornecendo uma nova perspectiva sobre a intensidade e a organização do movimento golpista.
As defesas de Bolsonaro e de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, dispensaram nove testemunhas que poderiam prestar depoimento na ação penal, destacando a estratégia de defesa orientada a enfraquecer as acusações contra os réus. Desta forma, a colaboração de Tarcísio e Nogueira é vista como uma tentativa de sustentar a narrativa de que não houve planejamento ou tentativa de golpe por parte do ex-presidente.
Com o desenrolar do processo, as próximas audiências e as possíveis testemunhas que podem ser convocadas serão cruciais para o futuro de Jair Bolsonaro e seus aliados políticos. A defesa continua a trabalhar para reforçar a ideia de que não houve ameaça à democracia, enquanto a acusação busca evidências do contrário.