Os Correios divulgaram nesta sexta-feira (30) que o prejuízo do primeiro trimestre de 2025 atingiu R$ 1,7 bilhão, o pior resultado desde 2017. O déficit é 115% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando foi de R$ 801 milhões. A crise financeira da estatal tem reflexos diretos na operação, com atrasos e paralisações em diversos setores.
Fluxo de caixa em crise e impactos na operação
O fluxo de caixa da empresa mostra uma deterioração severa. Em 2024, os Correios utilizaram R$ 2,9 bilhões de seu caixa e aplicações financeiras, equivalente a 92% do saldo de 2023. Já no início de 2025, sobraram apenas R$ 126 milhões para pagamento de obrigações mensais, o que evidencia grande dificuldade de liquidez.
Para tentar manter as operações, a empresa tomou dois empréstimos de R$ 550 milhões no final de 2024, mas fontes internas indicam que há expectativa de captar bilhões de reais por meio de novas operações de crédito. Essa escassez de recursos levou ao atraso de repasses para transportadoras, franqueados e planos de saúde, prejudicando a cadeia de serviços e a assistência aos funcionários.
Desde abril, as transportadoras parceiras têm reduzido suas atividades ou parado, causando atrasos na entrega de encomendas. Além disso, os repasses às agências conveniadas e mantidas, responsáveis por receber encomendas, também estão em atraso, impactando o funcionamento do sistema.
Medidas para estabilizar as finanças
Reformas e cortes de gastos
Após o anúncio do rombo financeiro, os Correios apresentaram um pacote de medidas com previsão de economia de R$ 1,5 bilhão, incluindo revisão da estrutura administrativa, redução de jornada de trabalho, suspensão temporária de férias, e reestruturação do plano de saúde. Entre as ações, destacam-se a redução de pelo menos 20% do orçamento de cargos comissionados na sede e a implementação de uma jornada de trabalho de 6 horas diárias.
Outras iniciativas envolvem venda de imóveis ociosos, otimização da logística, revisão de contratos estaduais e aprimoramento da malha de transporte. A empresa ainda projeta captar R$ 3,8 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China (NDB) para investimentos internos.
Novas estratégias de recuperação
Além das medidas de contenção, os Correios pretendem expandir operações em segmentos internacionais, encomendas, setor público e comércio eletrônico, buscando aumentar o lucro em R$ 3,1 bilhões. Planejam, ainda, lançar um marketplace próprio e reforçar a atuação junto ao setor de varejo físico e digital.
Reações sindicais e desafios futuros
A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Correios (Findect) manifestou preocupação com as medidas de corte de despesas, especialmente quanto à suspensão de férias e redução de jornada. A entidade solicitou garantias de que os empregados possam voltar às suas jornadas normais sem dificuldades, além de pedir a convocação de aprovados em concursos públicos para evitar déficit de pessoal.
O presidente dos Correios, Fabiano Silva, afirmou que as ações são essenciais para a sobrevivência da empresa, mas ainda há incerteza quanto ao impacto dessas medidas para os trabalhadores e a continuidade dos serviços.
Especialistas indicam que a situação reforça a necessidade de reformas estruturais mais profundas na estatal, que enfrenta há anos dificuldades financeiras agravadas pela crise econômica e mudanças no mercado de entregas.
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