Aos poucos, os bidês de alta tecnologia, conhecidos como Washlets, conquistam os consumidores nos Estados Unidos, semelhante ao que ocorreu no Japão há mais de 40 anos. Desde o lançamento do produto, em 1980, a Toto investiu na inovação e aprimoramento de seus assentos sanitários, que hoje representam mais de 80% dos vasos domésticos no Japão.
De resistência ao sucesso internacional
Inicialmente, a novidade foi recebida com surpresa e até reprovação nos EUA, onde a empresa enfrentou dificuldades para convencer os consumidores do valor dos bidês japoneses. Segundo Shinya Tamura, ex-engenheiro da Toto e atual presidente, “jamais imaginei que os Washlets fariam tanto sucesso no exterior”.
Durante anos, as vendas nos Estados Unidos ficaram abaixo de US$ 300 milhões anuais, diante de obstáculos culturais e comerciais. Porém, a pandemia de COVID-19 atuou como catalisador. “Com o lockdown, americanos passaram a recorrer mais aos Washlets, o que fez as vendas quase dobrar em 2020”, explicou Tamura.
O impacto da pandemia e o crescimento nas redes sociais
O isolamento social e a escassez de papel higiênico impulsionaram a adoção dos bidês no mercado norte-americano. Além disso, a popularização nas redes sociais e o acesso a hotéis de luxo com banheiros high-tech fizeram com que os Washlets se tornassem um fenômeno social nos EUA.
Com celebridades, como a comediante Ali Wong, abordando o tema em seus shows na Netflix, a notoriedade dos bidês japoneses cresceu ainda mais. Em 2022, o rapper Drake presenteou o DJ Khaled com quatro Washlets, consolidando a tendência em círculos de influência.
Perspectivas de expansão e desafios comerciais
Segundo uma pesquisa do setor, mais de dois em cada cinco proprietários em reforma nos EUA optam por instalar vasos com recursos especiais, incluindo assentos com bidê. A Toto observou um crescimento de mais de oito vezes nos lucros do setor de equipamentos residenciais nas Américas nos últimos cinco anos e planeja expandir ainda mais sua presença.
Porém, a empresa enfrenta desafios, como as tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump. Muitos dos Washlets vendidos na América do Norte são fabricados na Tailândia e na Malásia, países que poderiam ser atingidos por tarifas acima de 20%. Ainda assim, Tamura destaca que “os bidês representam apenas 2,5% do mercado de vasos nos EUA”, e há potencial para crescimento significativo.
Adaptação cultural e evolução tecnológica
O sucesso dos Washlets está ligado à cultura japonesa de inovação e respeito às tradições, explica a analista Masako Shirakura. No Japão, estes dispositivos passaram a incorporar recursos como desodorização, abertura automática e assentos aquecidos ao longo de décadas de aprimoramento.
Na década de 1960, a Toto começou a desenvolver seus produtos após perceber o uso de dispositivos semelhantes na medicina americana. O primeiro Washlet foi lançado em 1980, inicialmente caro e com alguns problemas técnicos, mas julgando a evolução, o produto foi se popularizando com o tempo.
Hoje, a Toto já vendeu mais de 60 milhões de unidades globalmente. A cerimonia de introdução do bidê na cultura japonesa, aliada à crença de que objetos domésticos abrigam espíritos, explica o respeito e a preferência cultural por esse tipo de tecnologia.
Futuro promissor nos Estados Unidos
Com o mercado americano mostrando sinais claros de adoção massiva, Tamura revela que a meta da Toto é mais do que dobrar as vendas de Washlets até o final de 2027. “Mesmo com possíveis tarifas, os EUA continuam sendo nosso maior potencial de crescimento”, afirma o executivo.
Ele ainda brinca que, como uma espécie de vingança, pretende fazer uma nova tentativa na Times Square, onde a reação inicial ao outdoor de 2007 foi negativa. Agora, a trajetória de sucesso parece garantida, impulsionada pelo contínuo interesse por inovação e conforto nos banheiros.
Saiba mais sobre o avanço dos produtos japoneses no mercado mundial na reportagem da Globo.