A World Boxing, federação mundial de boxe responsável pelo programa olímpico e amador da modalidade, anunciou nesta sexta-feira a introdução de testes genéticos de gênero obrigatórios para seus atletas. Esta decisão marca uma nova fase nas competições, especialmente após as polêmicas envolvidas com a boxeadora argelina Imane Khelif, medalha de ouro nas Olimpíadas de Paris. A atleta foi vetada de participar de eventos da modalidade até que passe pela testagem.
A nova política da federação
Segundo a federação, os testes fazem parte de uma nova política de “sexo, idade e peso”, que entra em vigor em 1º de julho. O objetivo é garantir a segurança de todos os participantes e proporcionar um nível competitivo igual entre homens e mulheres. Em um comunicado, a instituição destacou que a medida foi desenvolvida por um grupo de trabalho do Comitê Médico e Antidoping do Boxe Mundial, que analisou dados e evidências médicas de diversas fontes e consultou especialistas de diferentes esportes ao redor do mundo.
Impacto nas atletas
A federação informou que enviou uma carta à federação argelina de boxe, notificando sobre o veto a Khelif, que não poderá competir na Copa de Boxe de Eindhoven, na Holanda, até que passe pela testagem. O comunicado ressaltou as controvérsias enfrentadas por Khelif nos Jogos de Paris-2024 e argumentou que a medida visa à “segurança e bem-estar de todos os atletas, incluindo Khelif, e busca proteger a saúde mental e física de todos os participantes da Copa”.
Funcionamento do teste
Os testes serão realizados pelas federações nacionais e se aplicarão a atletas acima de 18 anos. O exame genético será uma PCR (reação em cadeia da polimerase) para determinar o sexo ao nascimento e a elegibilidade do atleta para competir. De acordo com a federação, o teste poderá ser feito com amostras de swab nasal, bucal, saliva ou sangue. Os resultados buscarão o gene SRY, que indica a presença do cromossomo Y.
Diretrizes para a participação das atletas
Nos casos em que for detectado o cromossomo Y ou uma “diferença no desenvolvimento sexual (DSD)” que cause androgenização masculina, a atleta só poderá competir na categoria masculina. Caso contrário, a participação na categoria feminina será permitida. Existem opções de recurso, e os resultados serão enviados para análises clínicas independentes caso uma atleta que possua cromossomo Y ou DSD com androgenização masculina deseje competir na categoria feminina.
Imane Khelif e as polêmicas
Imane Khelif tem enfrentado diversas polêmicas durante sua carreira. Durante os Jogos de Paris, ela foi atacada verbalmente e sofreu pressão por parte de outras associações, como a Associação Internacional de Boxe (IBA), que por sua vez não apresentou resultados de testes de gênero. A IBA alegou que a atleta teria a combinação de cromossomos XY, masculina, e foi suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) devido a questões de governança, o que levantou dúvidas sobre sua participação na competição. Mesmo assim, o COI autorizou a presença de Khelif nos Jogos.
Desdobramentos e reações
Os ataques a Khelif cresceram quando a boxeadora italiana Angela Carini abandonou a luta com dores logo no início do combate, o que gerou uma onda de críticas nas redes sociais. Contudo, desconsiderando os desafios impostos, Khelif se destacou ao vencer a chinesa Yang Liu na final e conquistar a medalha de ouro na categoria meio-médio, solidificando seu papel na história do boxe.
Este novo cenário no boxe, que começa a ser desenhando com a implementação dos testes genéticos de gênero, traz à tona discussões importantes sobre inclusão, competição justa e a proteção dos direitos dos atletas. A medida da World Boxing ressalta a necessidade de um equilíbrio entre a segurança e a equidade nas competições, um tema que continuará a ser debatido amplamente nos próximos meses.