A morte do motorista de aplicativo Vagner Santos Ferreira, de 39 anos, expõe as falhas no sistema de atendimento médico no Rio de Janeiro e o aumento da violência na cidade. Vagner foi baleado na cabeça durante um assalto na última segunda-feira (26) e, devido a complicações em seu atendimento em hospitais públicos, não sobreviveu. A investigação da Delegacia de Homicídios da Capital resultou na prisão de dois suspeitos envolvidos no crime.
Os detalhes do crime
De acordo com a polícia, o crime ocorreu após Vagner ser abordado por dois criminosos armados enquanto realizava uma corrida. O plano dos bandidos era roubar o veículo e vendê-lo a traficantes da favela do 38, localizada em Bangu, além de realizar transferências bancárias da conta da vítima. Matheus Ferreira dos Santos, suspeito de ser o autor do disparo, foi preso na quinta-feira (29), enquanto Hiago Sirino dos Santos, considerado cúmplice, foi detido no dia seguinte.
O serviço de carona começou na estação de trem em Realengo e seguiu em direção ao bairro Senador Camará. Durante a corrida, próximo ao destino na Rua Júlio de Melo, Vagner foi baleado. Seu celular foi deixado no veículo, mas o criminoso levou a carteira, o que sugere que a intenção era o roubo do carro, e não apenas um assalto simples.
Falhas no atendimento médico
Após ser ferido, Vagner foi levado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, onde esperou, sem atendimento adequado, por uma tomografia que não pôde ser realizada devido ao seu peso elevado, acima de 140 quilos. Ele acabou sendo transferido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas a unidade também se recusou a realizar o exame.
Segundo a família, o apoio ao motorista foi extremamente deficiente. “Ele ficou na maca até conseguir uma vaga no outro hospital, mas acabaram não aceitando ele, mesmo com a informação de que havia um neurocirurgião disponível lá. Se tivessem agido a tempo, ele poderia ter sobrevivido”, lamentou o irmão, Vanderson Ferreira.
O impacto da morte de Vagner
Vagner era electricista por formação, mas nos últimos cinco anos trabalhou como motorista de aplicativo por não encontrar emprego na área. Sua morte gerou preocupação entre amigos e familiares, que não conseguiam contatá-lo na noite do crime. “Ele sempre mandava a localização em corridas que achava perigosas. Neste dia, não enviou nada, e nossa mãe ficou desesperada tentando ligá-lo”, relatou Vanderson.
O caso de Vagner levantou questões críticas sobre o sistema de saúde pública do Rio de Janeiro, especialmente no tratamento de pacientes com necessidades especiais devido a peso. A Secretaria Estadual de Saúde comunicou que notificará a Secretaria Municipal para garantir que situações como essa sejam evitadas no futuro.
Resposta das autoridades
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, declarou que a negativa da realização da tomografia foi baseada na avaliação médica, que considerou o quadro de Vagner como extremamente grave, mas ainda tentou justificar as falhas do sistema. “Era um caso limitante. O tomógrafo, mesmo sendo diferente, não tinha a capacidade necessária para esse atendimento e, por isso, indicou-se o retorno ao hospital de origem”, afirmou.
A tragédia que envolveu Vagner Santos Ferreira não representa apenas um crime brutal, mas também um retrato de um sistema de saúde que falha em momentos críticos e a crescente violência nas ruas cariocas. Os desdobramentos desse caso podem levar a mudanças necessárias nas políticas de segurança e saúde pública, em busca de evitar a repetição de tal tragédia.
As investigações sobre o caso continuam, e a sociedade aguarda respostas que possam trazer justiça à família de Vagner e segurança para todos os motoristas de aplicativo na cidade.