Uma descoberta alarmante chamou a atenção de especialistas e autoridades de saúde no Brasil: percevejos-de-cama (Cimex lectularius), que se alimentam de sangue humano, foram identificados pela primeira vez na região sul do país, especificamente no município de Cafelândia, no Paraná. A confirmação foi realizada pelo Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp, em Araraquara, e marca uma mudança significativa na geografia de infestação desses insetos, anteriormente restrita às regiões Sudeste e Nordeste.
A importância da descoberta
Os percevejos-de-cama, pequenos insetos que medem entre 4 e 10 milímetros, não transmitem doenças, mas são capazes de causar lesões, dermatites alérgicas e intensa coceira nas pessoas afetadas. Além dos desconfortos físicos, uma infestação pode levar a problemas como insônia, estresse e ansiedade.
Segundo Jader de Oliveira, pesquisador da FCF da Unesp, a presença deste inseto no sul do Brasil indica uma expansão territorial preocupante e a falta de uma política nacional de controle e vigilância. “Diferentemente de outros vetores conhecidos, como o mosquito da dengue, o percevejo-de-cama não está inserido em programas de vigilância, o que permite seu crescimento sem supervisão”, afirma Jader.
A infestação foi detectada em duas casas a aproximadamente 500 metros uma da outra em Cafelândia, cidade localizada a cerca de 550 km de Curitiba. Esta nova realidade coloca em evidência a necessidade de estratégias eficazes de controle e prevenção para combater esses insetos.
Como os percevejos se espalham?
Os percevejos-de-cama se abrigam em locais como colchões, tecidos e fendas de móveis. Eles se dispersam de maneira ativa, ao se moverem em busca de abrigo e alimento, e de forma passiva, ao aderirem seus ovos a roupas, mochilas e móveis. O Ciclo de vida desses insetos é rápido, levando cerca de 28 dias do ovo à fase adulta, e uma fêmea pode depositar entre 5 e 20 ovos após uma única refeição de sangue.
A multiplicação e resistência desses insetos são questões levantadas por Jader de Oliveira, que lembra que, na década de 1950, o uso de inseticidas como o DDT quase erradicou os percevejos-de-cama, mas este controle acabou tornando-os mais resistentes e resultou em um ressurgimento das infestações.
Identificação e pesquisa
A identificação dos percevejos-de-cama em Cafelândia trouxe à tona a urgência por uma pesquisa mais aprofundada e uma vigilância constante. O método utilizado pelo Laboratório de Parasitologia da Unesp para identificar os insetos coletados envolveu um processo chamado “clareamento”, que revelava detalhes microscópicos essenciais para a correta classificação. O trabalho foi realizado com precisão, permitindo não apenas confirmar a espécie, mas também abrir oportunidades para estudos futuros relacionados ao comportamento e adaptação destes insetos ao ambiente urbano.
É fundamental que a população esteja atenta e informe as autoridades sobre qualquer sinal de infestação em suas residências, para que ações adequadas possam ser tomadas. O combate aos percevejos-de-cama requer uma abordagem integrada, incluindo controle mecânico, térmico e o uso específico de inseticidas.
Prevenção e controle
Investir em medidas de prevenção é crucial para evitar a proliferação desses insetos. Isso inclui a lavagem de roupas e roupas de cama em temperatura alta e a busca por serviços especializados em controle de pragas, uma realidade não muito presente no Brasil, onde os consumidores ainda enfrentam dificuldades em acessar produtos eficazes contra percevejos-de-cama.
Além disso, iniciativas inovadoras no exterior, como a utilização de cães farejadores para detectar percevejos em bagagens, podem servir de inspiração para o desenvolvimento de estratégias de prevenção no Brasil. A conscientização da população e o investimento na ciência são essenciais para enfrentar os desafios impostos pela presença desses insetos.
A descoberta do percevejo-de-cama no sul do Brasil é um chamado à ação. É necessário que instituições governamentais e a sociedade civil se unam para desenvolver políticas de controle eficazes e conscientizar o público sobre a importância da vigilância em saúde pública. Somente assim será possível mitigar os impactos negativos dessa praga urbana e garantir um ambiente mais seguro e saudável para todos.