Na última quarta-feira, 28 de maio de 2025, a Namíbia, localizada no sul da África, viveu um momento histórico ao lembrar, pela primeira vez, as vítimas do genocídio cometido contra os povos Herero e Nama pelo Império Alemão entre 1904 e 1908. Essa celebração marca um passo significativo para a reconciliação e a pacificação de uma memória que carrega o peso de mais de 70.000 vidas perdidas, incluindo crianças, mulheres e idosos. O governo alemão, ao reconhecer esses massacres como “genocídio”, comprometeu-se a investir mais de 1 bilhão de euros no desenvolvimento da Namíbia.
Memória compartilhada
Os solenidades de memória ocorreram nos jardins do Parlamento, em Windhoek, reunindo as mais altas autoridades do país, familiares das vítimas e a comunidade em geral. Essa cerimônia simboliza a primeira etapa na elaboração de uma memória coletiva sobre os horrores que marcaram a história da Namíbia durante a colonização. Estima-se que, dos 80.000 Hereros que habitavam a região, cerca de 65.000 foram mortos em um genocídio que se intensificou durante a rebelião contra as potências coloniais. Para os Nama, o número de vítimas foi de cerca de 10.000, representando metade de sua população.
Durante a cerimônia, a ministra da Informação, Emma Theofelus, convidou todos os namibianos a participar dessa celebração, afirmando que “as almas corajosas das vítimas continuam a descansar em paz eterna”. O clima de unidade e reflexão foi reforçado por Gaob Dawid Gertze, representante do clã Nama, que ressaltou a importância da democracia e de lembrar coletivamente desse trágico evento.
Caminho da unidade
A cerimônia também incluiu momentos de oração e cânticos em memória dos que perderam suas vidas, demonstrando a resiliência da cultura Herero e Nama. “O dia de hoje é um lembrete para todos nós sobre a importância de unir nossas vozes e lembranças em prol de um futuro pacífico”, comentou Gertze.
O compromisso “moral e político” da Alemanha
A Alemanha, só em 2021, reconheceu oficialmente esses massacres como genocídio e, como parte de um “compromisso moral e político”, anunciou um investimento de 1 bilhão de euros ao longo de 30 anos para o desenvolvimento da Namíbia. No entanto, o governo alemão tem se recusado a pagar indenizações individuais aos descendentes das vítimas, o que gera discussões acaloradas sobre a reparação histórica e a justiça social.
A primeira homenagem oficial às vítimas do genocídio configura-se como um marco importante na história da Namíbia, reafirmando a necessidade de reconhecer e confrontar os eventos que moldaram a sociedade atual. A mobilização da população, aliada ao apoio internacional, é vista como um caminho para a reconciliação e a promoção da paz no país.
Enquanto a Namíbia se volta para o futuro, a lembrança dos que tombaram durante o genocídio permanece viva, como um importante lembrete da luta por justiça, igualdade e dignidade. Com o apoio do governo e da comunidade em geral, o país busca não apenas honrar a memória das vítimas, mas também trabalhar em direção a um futuro mais justo e inclusivo.
O caminho à frente é desafiador, mas a celebração deste dia histórico é um passo significativo rumo à cura das feridas deixadas pela história e à construção de uma sociedade unida e pacífica.