À medida que os anos se passam, os efeitos das mudanças climáticas no mundo demonstram que não estão perto de arrefecer. Pelo contrário: tornam-se cada vez mais violentos, atingem mais pessoas e causam mais prejuízos. As cheias no Rio Grande do Sul, que recentemente completaram um ano, são uma das provas disso.
Com esses eventos, os processos de reconstrução, em especial dos espaços urbanos, ganham destaque no debate de áreas especializadas, ressaltando o conceito de urbanismo regenerativo. “Compreendido como um processo de intervenção urbana direcionado à recomposição da biosfera, o urbanismo regenerativo é um dos temas mais proeminentes para o alcance da resiliência em meios urbanos na atualidade”, destaca a doutora em urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carina Folena Cardoso Paes.
O que é urbanismo regenerativo?
O urbanismo regenerativo propõe soluções para tornar as cidades mais sustentáveis e resilientes em relação aos efeitos das mudanças climáticas, atuando na restauração e regeneração de ecossistemas urbanos. Este conceito combina a restauração ecológica com a recuperação de rios, a criação de novos espaços públicos, a reutilização de materiais e a adoção de energias renováveis. Além disso, enfatiza a participação da comunidade nos projetos.
A doutora Carina ressalta: “Há pontos que, indubitavelmente, são bem-vindos em diferentes contextos urbanos, como a expansão de áreas caminháveis sobre a infraestrutura destinada aos automóveis, o preenchimento de vazios urbanos, e a priorização do transporte coletivo nas políticas de mobilidade.”
Iniciativas ao redor do mundo
O urbanismo regenerativo se imerge em diversas iniciativas que estão sendo realizadas ao redor do mundo, demonstrando a relevância e a eficácia dessa abordagem. Um exemplo notável é o plano de Copenhagen, efetivado em 2012, que visa tornar a cidade uma metrópole de carbono zero. Um dos polos de desenvolvimento, localizado no bairro de Nordhavn, na área portuária, foi projetado para ser uma “cidade de 5 minutos”, onde lojas, centros culturais e transporte público estão a apenas cinco minutos de caminhada, priorizando pedestres e ciclistas.
Outro exemplo é o Campo de Tempelhof em Berlim, um antigo aeroporto militar que, desde maio de 2010, funciona como o Parque Tempelhofer, hoje o maior parque urbano da capital alemã. Esta transformação mostra como é possível converter espaços anteriormente dedicados a atividades poluentes em áreas de lazer e convivência para a população.
Exemplo no Hemisfério Sul
No Hemisfério Sul, a cidade colombiana de Medellín se destaca com mais de 30 áreas, incluindo ruas e hidrovias, que integram os chamados “Corredores Verdes”. Esses locais são transformados em extensas rotas arborizadas, visando mitigar os efeitos do calor tropical na região, intensificados pelo uso excessivo de asfalto. O projeto inclui a plantação de centenas de árvores e a troca de pavimentos das calçadas por materiais permeáveis, resultando em uma redução de até 2°C na temperatura das áreas beneficiadas.
Esses exemplos globais evidenciam que o urbanismo regenerativo não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Implementá-lo nas cidades brasileiras pode representar uma oportunidade de criar ambientes urbanos mais resilientes, sustentáveis e inclusivos.
Perspectivas futuras
Com o avanço do urbanismo regenerativo, o desafio será integrar essas práticas nas estruturas urbanas existentes e garantir que haja apoio político e financeiro para sua implementação. É crucial que as cidades brasileiras adotem iniciativas que contribuam para a criação de um ambiente urbano que não só suporte, mas que se regenere em resposta às adversidades climáticas. A participação da comunidade será fundamental nesse processo, garantindo que as soluções atendam às necessidades e realidades locais.
Assim, as cidades poderão não apenas sobreviver a eventos climáticos extremos, mas prosperar, criando espaços mais habitáveis e sustentáveis para as futuras gerações.