No último dia 27, o Vaticano foi palco de um momento histórico para as Igrejas Católicas Orientais da Etiópia e da Eritreia, com a apresentação da nova edição do Missal em ge‘ez, uma língua litúrgica ancestral. O evento foi promovido pelo Pontifício Colégio Etíope e contou com a presença de bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, todos unidos para celebrar a importância desse livro litúrgico.
Importância do Missal para as Igrejas Orientais
O cardeal Claudio Gugerotti, prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, destacou durante a apresentação que a nova edição do Missal oferece um “instrumento de oração” essencial para os fiéis das regiões africanas. Segundo ele, a edição atual é uma homenagem à rica tradição litúrgica que tem sido cultivada há décadas. “Esse Missal é uma fonte da capacidade de sobreviver e sonhar que está na raiz da existência de um povo”, afirmou o cardeal.
O ge‘ez é reconhecido como uma das línguas semíticas mais antigas, e sua utilização nas liturgias da Igreja Católica e Ortodoxa na Etiópia e Eritreia promove uma ligação profunda com a história e a espiritualidade dessas comunidades. “Após a celebração da Missa, sentimos a benevolência amorosa de Deus e o carinho da Virgem Maria”, disse Gugerotti, enfatizando o significado espiritual do novo Missal.
A evolução do Missal Ge‘ez
Por mais de duas décadas, o Missal Ge‘ez passou por edições e revisões meticulosas, com a colaboração de diversas comissões das Igrejas Católicas da Eritreia e da Etiópia. Isto representa um dos poucos exemplos de cooperação entre as duas nações nos últimos tempos. “O Missal foi fundamentado em materiais de fontes antigas e também na análise de versões anteriores, levando 25 anos até chegar à sua versão final”, explicou dom Kindane Yebio, bispo de Keren, na Eritreia.
Uma das inovações mais significativas da nova edição é a inclusão de anotações para o canto litúrgico, além de normativas que preveem a celebração da Eucaristia com pão fresco e fermentado, o que aproxima ainda mais a prática litúrgica da experiência cotidiana dos fiéis.
Um passo em direção à Unidade
Dom Tesfasellassie Medhin, bispo da Eparquia Católica etíope de Adigrat, ressalta que o Missal Ge‘ez tem o potencial de servir como um símbolo de unidade entre as igrejas da Etiópia e da Eritreia. “Nos momentos mais difíceis, quando a Missa é celebrada em união de espírito, ela traz alegria interior, força e esperança”, expressou o bispo.
Ele também lembrou que a diversidade entre as Igrejas é uma riqueza, e que a nova edição do Missal permitirá que pastores e fiéis celebrem a Eucaristia de forma mais coesa. “A unidade não é uniformidade; temos identidades distintas que vão além de divisões políticas”, declarou, destacando que a verdadeira essência da liturgia é o fortalecimento da fé comunitária.
Reconhecimento Papal e Esperança para o Futuro
O evento culminou com a entrega formal do Missal aos bispos que representam as Igrejas Católicas da Etiópia e da Eritreia, marcado por um sentimento de renovação e esperança. O Papa Leão XIV, em uma recente audiência, reafirmou a importância dos ritos orientais dentro da comunhão católica, por meio de sua mensagem de apoio e encorajamento ao Oriente cristão. “A Igreja precisa de vocês”, disse o Papa, ressaltando o valor que as práticas e tradições orientais representam para toda a Igreja Católica.
A nova edição do Missal Ge‘ez não é apenas um livro, mas uma ponte que conecta o passado ao futuro, reafirmando a vitalidade das Igrejas orientais e o comprometimento em manter vivas suas tradições. Ao trazer uma nova luz à celebração da liturgia, espera-se que este Missal atue como um elemento inspirador, promovendo a união e a espiritualidade entre os fiéis.
Esta nova etapa na trajetória litúrgica da Eritreia e da Etiópia marca um passo significativo na busca por revitalização e unidade, áreas essenciais para o seu futuro espiritual.