Após uma sessão tumultuada no Senado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que não se sente obrigada a permanecer em um espaço onde é agredida e tratada com desrespeito. Hostilizada por aliados do governo, a ministra demonstrou preocupação com o futuro das políticas ambientais no Brasil e declarou: “A frente ampla tem contradições”.
O tumulto no Senado e as agressões recebidas
Durante a sessão, a ministra esperava um debate produtivo sobre temas relevantes, mas se deparou com uma onda de agressões. Ela afirmou que a intensidade das ofensas ultrapassou os limites e que a postura de alguns senadores não condizia com o respeito que deve ser dado a um representante do governo. “Eu estava no meu lugar de ministra. Quem não estava em seu lugar não era eu”, disse Marina, ressaltando que se dirige ao Senado com a intenção de dialogar.
Descontente com as atitudes de um senador, que afirmou não respeitar sua função, Marina decidiu deixar a sala. “Não sou obrigada a ficar num espaço para ser agredida e tratada com desrespeito”, declarou. A postura dela reflete sua determinação em lutar por um ambiente mais civilizado e respeitoso na política.
A luta pela proteção ambiental
Marina Silva é uma defensora fervorosa do meio ambiente e, diante das hostilidades, fez um apelo à sociedade para impedir a aprovação de um projeto que, segundo ela, pode “quebrar a vértebra” do sistema de proteção ambiental. A ministra criticou a ironia de muitos que clamam por medidas contra o desmatamento, mas que não estão dispostos a aceitar as políticas necessárias para alcançá-las.
“Existem aqueles que querem reeditar o passado o tempo todo. As pessoas cobram que o desmatamento caia, que não haja mais queimadas, mas não aceitam as medidas necessárias para isso”, destacou Marina, evidenciando a hipocrisia presente em algumas discussões no Congresso.
Desafios enfrentados como mulher na política
Em sua entrevista, Marina também refletiu sobre o machismo que enfrenta na política. Ao ser questionada se o fato de ser mulher contribuiu para os ataques que sofreu, a ministra respondeu que a hostilidade muitas vezes tem um viés de gênero: “Se fosse um homem ali, dificilmente um senador diria ‘ponha-se no seu lugar'”. Ela defendeu que cada vez mais as mulheres devem afirmar seu espaço e direitos na política.
A ministra lembrou ainda que até mesmo senadores aliados ao presidente Lula participaram das hostilidades, e a falta de apoio dos líderes de governo a deixou isolada. “A frente ampla tem contradições. Todos fomos importantes para salvar a democracia. O problema é que alguns não compreendem que a frente também precisa defender os direitos humanos, o meio ambiente, o combate ao racismo e ao machismo”, afirmou.
Apoio e diálogo com outras lideranças
Após a sessão conturbada, Marina também revelou que teve um diálogo com o presidente da Câmara, Hugo Motta, sobre o polêmico projeto que altera o sistema de licenciamento ambiental. Durante a conversa, Marina expressou suas preocupações, destacando que a proposta pode causar danos irreparáveis à proteção ambiental no Brasil.
“Expliquei que o projeto aprovado no Senado quebra a vértebra da proteção ambiental brasileira e pode causar um prejuízo enorme. O Congresso pode mudar as leis do país, mas as leis da natureza não mudam um centímetro”, disse a ministra.
Esperança para o futuro
Apesar dos desafios, Marina Silva permanece otimista. Ela acredita que a sociedade brasileira será capaz de mobilizar apoio político suficiente para aprimorar o sistema de licenciamento ambiental, em vez de anular sua eficácia. “Ainda acredito que a sociedade brasileira vai dar sustentabilidade política para os deputados aperfeiçoarem o sistema de licenciamento, em vez de acabar com ele”, concluiu.
Com uma trajetória marcada por lutas e avanços na área ambiental, a ministra continua a se firmar como uma voz forte em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos na política brasileira, mostrando que a luta por um futuro sustentável está longe de terminar.