A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a suspeita de venda de sentenças judiciais em uma rede de lobistas, ex-assessores de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e desembargadores do Mato Grosso, revelou diversos indícios de movimentações financeiras atípicas que sugerem a prática de lavagem de dinheiro através de boletos falsos e cartões de crédito.
Como o esquema funcionava?
Um dos principais envolvidos é Daimler Alberto de Campos, que atuou como chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti. Segundo um relatório da PF, entre março e julho de 2023, Campos realizou gastos incompatíveis com sua renda, totalizando R$ 3,5 milhões em cartões de crédito, chegando a pagar 25 faturas em um único mês.
O relatório, que foi utilizado pelo ministro Cristiano Zanin, relator do caso, descreve um esquema que usava boletos falsos produzidos por uma empresa controlada pelo lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. Estes boletos eram pagos pela própria empresa, com valores que correspondiam ou eram superiores aos das compras feitas com cartões de crédito.
Detectando a fraude
A Polícia Federal constatou que as operações de pagamento eram realizadas na mesma data e com valores correspondentes aos dos cartões. Isso levou à descoberta do que se chama de “operação casada” – um método claro de lavagem de dinheiro.
O dinheiro utilizado no esquema estava diretamente relacionado ao advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá (MT). De acordo com as investigações, Zampieri transferiu R$ 7,1 milhões para a empresa de Gonçalves entre 2019 e sua morte, valores estes que eram repassados para diversas contas até que poderiam ser utilizados para pagamentos de propinas.
Prorrogação das investigações
Recentemente, a PF conseguiu a prorrogação das investigações por mais 60 dias, após relatar ao ministro Zanin que o esquema era mais sofisticado e complexo do que inicialmente se pensava. Além disso, já em março, Zanin havia atendido a um pedido anterior da PF, estendendo o prazo das apurações. O caso segue sob sigilo e envolve menções a pelo menos um ministro do STJ: Paulo Moura Ribeiro.
Implicados e reações
Os ministros Gallotti, Og Fernandes e Nancy Andrighi também tiveram ex-assessores implicados na apuração da PF, embora os magistrados não estejam sendo oficialmente investigados. Em resposta às alegações da PF, a ministra Gallotti afirmou que não comentará sobre fatos de terceiros investigados pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto Og reforçou que quem comete atos ilícitos deve assumir as consequências legais.
Os advogados dos envolvidos optaram por não se pronunciar a respeito das informações divulgadas na investigação, refletindo a gravidade da situação e o sigilo que a implica.
Implicações para o judiciário
Esse escândalo lança uma sombra sobre a integridade do sistema judiciário brasileiro e provoca questionamentos sobre a necessidade de uma maior transparência e controle dentro do STJ. A venda de sentenças judiciais e a utilização do sistema financeiro para lavagem de dinheiro são práticas que não apenas minam a confiança pública no judiciário, mas também incentivam a corrupção e o desvio de verbas, prejudicando a justiça que a população brasileira tanto necessita.
Com as investigações em andamento, resta saber quais outras revelações a polícia poderá trazer à tona e quais serão os impactos desse caso na administração da Justiça no Brasil.