A curva de juros americana permanece pressionada em 2025, refletindo incertezas fiscais, tensões políticas por causa de Donald Trump e tensões comerciais. Mesmo em meio a esse cenário, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos continuam como principal porto seguro global, porém com rendimentos mais altos exigidos pelos investidores, explicam economistas.
Fatores que elevam os rendimentos dos treasuries
Segundo Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo Investimentos, o movimento atual é uma realocação global de portfólios motivada pelo aumento do risco político e fiscal nos Estados Unidos. Os investidores estão exigindo prêmios maiores para compensar as incertezas, o que resulta na elevação dos rendimentos.
Os títulos de 10 anos tiveram uma alta, indo de aproximadamente 3,9% para 4,46%, enquanto os de 30 anos ultrapassaram 5%, atingindo 5,04%, níveis não vistos desde 2007. Bruna Allemann, head de Investimentos Internacionais da Nomos, destaca que todo esse movimento se dá devido às políticas expansionistas, tarifas comerciais e preocupações com a sustentabilidade da dívida pública americana.
Impacto das tensões políticas e econômicas
Por causa do comportamento errático de Donald Trump e da insegurança gerada pelas tarifas comerciais, o fluxo de investimentos tem saído dos Estados Unidos para outros mercados, enfraquecendo o dólar global em cerca de 10%. As Treasuries, mesmo assim, continuam sendo um ativo atraente, apesar da volatilidade.
Segundo Bruna Allemann, a saída de recursos pressiona as taxas para cima, enquanto a inflação reforça a expectativa de que o Federal Reserve precisará manter os juros por mais tempo. Apesar disso, existe esperança de que, com o enfraquecimento da economia, o Fed possa promover cortes nas taxas na segunda metade do ano.
Perspectivas para os juros e o dólar
O mercado projeta dois cortes de juros neste ano, enquanto o cenário oficial trabalha com a possibilidade de três reduções. Apesar da turbulência, Bruna afirma que o dólar deve permanecer como moeda de reserva global, mesmo com a perda de atratividade como porto seguro.
Apesar do enfraquecimento de 10%, o dólar mantém um patamar elevado historicamente, evidenciando sua forte posição na economia mundial. Os títulos de 10 e 30 anos mostram um aumento na remuneração, refletindo o prêmio exigido pelo risco crescente de inadimplência.
Dados adicionais sobre o mercado de títulos e investimentos estrangeiros
Desde o início do segundo mandato de Trump, os treasuries enfrentam uma deterioração na atratividade, devido às políticas fiscais expansionistas, aumento de tarifas e dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública. Os rendimentos das opções de 10 anos subiram de cerca de 3,9% para 4,46%, enquanto os de 30 anos passaram de aproximadamente 4% para 5,04%, níveis não vistos desde 2007. Segundo Bruna Allemann, os investidores estão pedindo maiores prêmios para compensar o risco.
Além disso, a proposta de cortes de impostos estimados em US$ 3,8 trilhões até 2034 aumenta as preocupações com o aumento dos déficits fiscais. A Moody’s rebaixou a nota de crédito dos EUA de AAA para Aa1, o que reforça a percepção de deterioração fiscal e a ausência de medidas efetivas para conter o déficit. Entretanto, o volume médio diário de negociação de títulos atingiu US$ 1,13 trilhão até abril de 2025, um aumento de 26,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, com emissões totalizando US$ 9,9 trilhões e uma dívida em circulação de US$ 28,6 trilhões.
Investidores estrangeiros continuam aumentando suas posições nos títulos americanos, acrescentando US$ 233 bilhões em março, após um incremento de US$ 106 bilhões em fevereiro, atingindo recorde de US$ 9,05 trilhões. Para Bruna Allemann, isso não representa uma fuga, mas sim uma precificação de risco: o mercado ainda confia no dólar, embora exija um prêmio maior devido às incertezas.
Fonte: Geraldo Loureiro, O Globo