Na última sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, um intenso bate-boca sobre a polêmica rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, levou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a abandonar a reunião. O projeto, que envolve a pavimentação de 20 quilômetros da estrada, é defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas já gerou uma onda de críticas de ambientalistas e especialistas, que alertam para os riscos ambientais associados à obra.
Controvércias e debates acalorados
A saída de Marina Silva foi provocada por declarações do senador Plínio Valério, líder do PSDB no Senado, que afirmou que a ministra não merecia respeito. Esse comentário gerou polêmica, considerando que, em março, o próprio senador demonstrou um comportamento agressivo, expressando, de forma ameaçadora, sua intenção de “enforcar” a ministra. Diante da falta de desculpas por parte de Valério, Marina decidiu se retirar da sessão.
Durante a discussão, o senador Omar Aziz também criticou a ministra, alegando que suas preocupações ambientais estariam atrapalhando o desenvolvimento do Brasil. Contudo, Marina Silva rebateu afirmando que seu compromisso é com o desenvolvimento econômico sustentável e que as consequências da exploração ilegal na Amazônia são “concretas”.
Impactos ambientais da br-319
O senador Aziz defendeu a pavimentação da BR-319 como uma forma de impulsionar a integração da região e fortalecer a economia. Por outro lado, especialistas alertam que essa obra pode se tornar um grande facilitador para o desmatamento, ameaçando a biodiversidade da região amazônica. Marina Silva enfatizou que, sempre que o tema da BR-319 é abordado, há um aumento na atividade de grilagem de terras.
“A avaliação ambiental estratégica é crucial. O desmatamento e a exploração ilegal que acompanhariam a pavimentação são problemas concretos que não podem ser ignorados”, declarou a ministra, ressaltando que sua presença na comissão será mantida apenas se houver um debate respeitoso e constructivo.
Consequências da obra e vozes contrárias
Em julho do ano passado, uma decisão judicial suspendeu a licença prévia concedida durante o governo Bolsonaro para a obra na rodovia. Advogados do Observatório do Clima, incluindo Paulo Busse, destacaram que a continuidade desse projeto pode resultar em consequências catastróficas para a floresta, para as comunidades locais e para o clima do planeta. A expectativa gerada pela concessão da licença já contribuiu para um aumento do desmatamento nas proximidades da estrada.
Lucas Ferrante, pesquisador da USP e da Universidade Federal do Amazonas, alertou que a rodovia carece de viabilidade científica. Ele afirmou que a seca, mencionada por Lula como justificativa para a obra, não deve ser utilizada como razão para pressionar o licenciamento do projeto. O desmatamento nas margens das rodovias é uma realidade alarmante na Amazônia, e a pavimentação da BR-319 poderia agravar ainda mais essa situação.
Questões estruturais e sociais
Os estudiosos reforçam que a pavimentação da rodovia não apenas prejudicaria o ciclo hídrico da região amazônica, mas também dificultaria a capacidade de combate ao crime organizado, caso o projeto avançasse. As críticas também incluem a falta de consulta às comunidades indígenas que habitam a região, uma violação dos direitos desses povos. “O desenvolvimento das obras não pode ocorrer à margem dos direitos fundamentais das populações locais. Os povos indígenas devem ser ouvidos”, afirmou Busse, ressaltando a necessidade de um debate mais amplo sobre a questão.
A situação da BR-319 expõe um conflito maior entre desenvolvimento e conservação ambiental. O debate deverá prosseguir no Senado, evidenciando a necessidade de um diálogo respeitoso, com a participação de todos os segmentos da sociedade, na busca de soluções que equilibrem crescimento econômico e proteção ambiental.
O futuro da BR-319 permanece incerto, e especialistas e ativistas continuam se manifestando contra a obra, enfatizando que as implicações podem ser irreversíveis para um dos maiores patrimônios naturais do mundo.