Dois estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal (SP) que foram internados em coma alcoólico após um trote universitário já deixaram a UTI, mas continuam sob observação. O incidente levantou preocupações sobre a segurança e a ética nas festas universitárias, além de acender um debate sobre a pressão a que calouros são submetidos por veteranos.
O que aconteceu na festa dos calouros
No último domingo (25), durante uma festa organizada por estudantes veteranos, calouros foram supostamente forçados a beber álcool em alta quantidade para obter pulseiras que os permitiriam participar da “Festa dos 100 dias”, um evento tradicional entre os alunos. Segundo relatos, sete estudantes passaram mal, levando dois deles a serem internados com gravidade, necessitando até de intubação devido ao estado crítico.
Familiares dos alunos afetados expressaram desespero ao receberem a notícia. João Bertolino Neto, pai de uma das vítimas, descreveu a situação como “covardia”, ressaltando que sua filha, Sara, de 20 anos, não tinha o costume de consumir álcool. Ele contou que a pressão para beber era intensa, e que sua filha foi forçada a ingerir alimentos não convencionais, como alho e cebola in natura.
A gravidade do estado dos alunos
A saúde dos alunos que foram internados é motivo de grande preocupação. Viviane Aparecida Bezerra Facco, mãe de Pedro, outro estudante afetado, relatou o momento angustiante em que foi informada sobre a necessidade de autorizar a entubação de seu filho. Ela descreveu a cena de seu filho na UTI como “desesperadora”, com muitos aparelhos conectados a ele, e a sensação de perder um filho foi avassaladora.
Após receber tratamento, Pedro apresentou uma leve melhoria, mas ainda luta para se recuperar completamente. Em suas poucas palavras durante a recuperação, ele mencionou vagamente o momento em que alguém jogou bebida em seu rosto, revelando a pressão que os calouros enfrentam para se encaixar e participar da festa.
Investigação e desdobramentos
As autoridades estão levando o caso a sério. A Polícia Civil investiga a incidência de lesão corporal e apura a responsabilidade dos veteranos no incidente. A fiscalização se concentrará em entender se houve um incentivo estruturado para que os calouros consumissem bebidas alcoólicas, levando a situações de risco como as que culminaram na internação dos estudantes.
Pelo menos três estudantes foram identificados como suspeitos e são alvos da investigação. Além disso, a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp iniciou uma apuração interna sobre as circunstâncias do trote e está coletando depoimentos de todos os envolvidos.
A repercussão e o apelo por mudanças
Essa tragédia não apenas impactou as famílias dos alunos, mas também gerou um clamor por mudanças na cultura dos trotes universitários. Viviane, a mãe de Pedro, fez um apelo emocionado para que as práticas abusivas sejam banidas: “Não se trata apenas da vida dos nossos filhos, mas de uma cultura de violência que pode arruinar o futuro de muitos jovens. Que sirva de lição para todos os veteranos que perpetuam essas práticas.”
Já João, pai de Sara, reforçou que a pressão para se integrar ao grupo muitas vezes ultrapassa os limites do razoável, e que as universidades precisam adotar medidas eficazes para garantir a segurança de seus alunos.
As universidades têm a responsabilidade de cuidar de seus alunos, especialmente em eventos que promovem a socialização. O que ocorreu em Jaboticabal é um exemplo claro da necessidade de revisão das práticas de trote e da importância de promover um ambiente educacional seguro e saudável.
Enquanto aguardam a recuperação completa de seus filhos, as famílias pedem justiça e maior conscientização sobre os perigos associados a esses rituais de iniciação. A expectativa é que incidentes como esse sirvam como um alerta para a comunidade acadêmica e que mudanças efetivas sejam feitas para proteger os estudantes no futuro.