A Encíclica Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII há mais de um século, continua a ser um documento fundamental na Doutrina Social da Igreja, abordando temas como a desigualdade social, condições de trabalho e a busca por uma sociedade mais justa. À medida que enfrentamos novos desafios, incluindo a revolução da inteligência artificial, a mensagem de Rerum Novarum ressoa na necessidade de solidariedade e justiça social.
A doutrina social da Igreja e sua fundação
A encíclica Rerum Novarum, lançada em 1891, foi pioneira ao abordar as injustiças sociais resultantes da Revolução Industrial. O Papa Leão XIII convidou não apenas a Igreja, mas também governos e empregadores a unirem esforços para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e promover um bem-estar comum. Esses princípios foram amplificados ao longo dos anos, sendo constantemente referenciados por papas sucessores, incluindo o atual Papa Leão XIV.
Em um discurso recente ao Corpo Diplomático, o Papa Leão XIV sublinhou a importância da justiça social na busca pela paz. Ele ressaltou que, em tempos de crescentes desigualdades e fragmentações sociais, a Igreja deve levantar sua voz contra injustiças que afetam a dignidade do trabalho e as condições sociais. A mensagem é clara: somente através da colaboração entre diferentes setores da sociedade podemos superar os desafios contemporâneos.
A evolução da Rerum Novarum em tempos modernos
Com 134 anos desde sua publicação original, Rerum Novarum se mostra mais relevante do que nunca. De acordo com o Pe. Gerson Schmidt, a encíclica lançou as bases para a resposta da Igreja a uma nova revolução industrial, que agora ocorre no contexto da inteligência artificial. Essa transformação traz consigo novas demandas para a proteção da dignidade humana e da justiça trabalhista, exigindo novas interpretações dos ensinamentos de Leão XIII.
O legado da Rerum Novarum não se limita ao passado. Documentos subsequentes, como a encíclica Quadragesimo Anno do Papa Pio XI e a Mater et Magistra de João XXIII, são exemplos de como a Igreja continuou a desenvolver seus ensinamentos, adaptando-os aos desafios dos tempos. A preocupação sobre a dignidade do trabalhador e a primazia do bem-estar da comunidade permanece um marco na reflexão social da Igreja.
A mensagem de esperança e cooperação
Mais do que um simples diagnóstico das injustiças sociais, a Rerum Novarum transmite esperança. Ao afirmar que a ação conjunta entre diversas classes sociais e instituições é essencial, o Papa Leão XIII estabeleceu um chamado para a colaboração e a solidariedade. Essa ideia foi reforçada ao longo do tempo, e a atual liderança da Igreja busca continuar a obra de união e bem-estar social.
Na estrutura do pensamento social da Igreja, o conceito de ‘esperança’ aparece continuamente, especialmente no contexto das crises. O Concílio Vaticano II, através da Constituição pastoral Gaudium et Spes, destaca a importância de abordar as alegrias e esperanças do povo. Essa continuidade de pensamento reflete o desejo da Igreja de ser uma força ativa na promoção do bem comum e na construção de uma sociedade mais justa e acolhedora.
Desafios contemporâneos e a necessidade de ação
O sistema econômico atual, extremamente dominado por um “imperialismo internacional do dinheiro”, conforme observado por Leão XIII, ainda persiste. As crises de trabalho, os efeitos da pandemia de COVID-19 e a crescente desigualdade são questões que pedem a atenção de todos. A obra de Leão XIV, em sua nova abordagem, deve levar em conta essas complexidades enquanto propõe soluções inspiradas na Doutrina Social da Igreja.
Por fim, a Rerum Novarum se estende além de sua época e encontra sua aplicação nos dias atuais. A mensagem central sobre a dignidade humana, a justiça e a solidariedade é um convite para que todos participem da construção de um futuro mais humano e integrador. O desafio está lançado: a construção de uma ordem social mais justa depende da ação conjunta de governos, empregadores, trabalhadores e a própria Igreja.
Através do diálogo e do entendimento, as lições de Rerum Novarum permanecem uma luz que orienta as ações em busca de uma sociedade menos desigual e mais colaborativa.
*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e teólogo, com ampla formação nas áreas de comunicação e filosofia.
