No evento Araruama Literária 2025, a renomada escritora Conceição Evaristo enfatizou seu conceito de “Escrevivência”, destacando a escrita como um ato de resistência e uma forma de expressão política. Em uma palestra inspiradora, Evaristo explicou como a literatura e a música servem como ferramentas de transformação e quebra do silêncio para pessoas historicamente oprimidas, como negros e indígenas.
A Escrevivência e seu impacto social
Conceição Evaristo, uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea brasileira, introduziu o conceito de Escrevivência para ressaltar a importância do ato de escrever para aqueles que foram silenciados. “Se trata de um paradigma. O texto se torna lugar de resistência para quem foi historicamente silenciado”, afirmou a escritora, destacando que a literatura não é apenas um meio de contar histórias, mas também uma forma de reivindicar espaço e visibilidade.
A Escrevivência foi definida por Evaristo como uma prática de escrita que transcende a mera criação literária. “Ela é um ato político e de resistência”, afirmou, enfatizando que a literatura tem o poder de dar voz a aqueles que, ao longo da história, sofreram com a opressão. Assim, obras de escritores e escritores negros, indígenas e outras minorias se tornam uma poderosa forma de resistência e um convite à reflexão sobre as injustiças sociais.
Instrumentos de ruptura e sobrevivência
Durante sua palestra, Evaristo exemplificou como a música e a literatura têm sido usados como instrumentos de ruptura e sobrevivência. “Pessoas que passam por processos de dominação, como negros e indígenas, realizam a quebra de silêncio, principalmente por meio da literatura e da música”, explicou. Ela enfatizou que o samba, por exemplo, é um símbolo de resistência cultural que carrega a história e as lutas do povo brasileiro.
Um dos exemplos que Evaristo mencionou foi Dona Ivone Lara, uma das primeiras mulheres a compor sambas, que usou sua voz para quebrar barreiras e expor suas vivências. “Ela representa a força das mulheres negras que resistem e lutam através da música, transformando suas dores em manifestações artísticas”, afirmou Evaristo, sublinhando que a arte é uma forma de resistência e de reescrita histórica.
Além do samba, Evaristo também trouxe à tona a literatura contemporânea, citando autores como Ana Maria Gonçalves, que, através de suas obras, abordam a narrativa negra e indígena, oferecendo uma nova perspectiva sobre a história do Brasil. Essas vozes, que antes estavam em segundo plano, ganham espaço e visibilidade, fazendo com que a sociedade reflita sobre suas estruturas de poder e opressão.
A relevância da literatura na formação da identidade
O papel da literatura na formação da identidade cultural e social é amplamente reconhecido, e a Escrevivência tem tudo a ver com esse processo. Ao resgatar histórias de marginalização e opressão, a escrita se torna um ato reivindicatório. Evaristo destacou que, ao contar suas histórias, as pessoas não só reivindicam seu lugar na sociedade, mas também contribuem para a formação de uma identidade coletiva que valoriza a diversidade.
O evento em Araruama contou também com a participação de outros nomes da literatura brasileira, mas a mensagem de Evaristo permaneceu em destaque. Sua visão sobre a escrita como resistência e seu impacto na luta por direitos e reconhecimento despertou reflexões importantes entre os presentes, especialmente em um momento em que a sociedade busca cada vez mais por inclusão e diversidade.
Concluindo a reflexão
Conceição Evaristo, com sua abordagem única e profundamente reflexiva sobre a Escrevivência, inspirou os participantes do Araruama Literária 2025 ao mostrar como a literatura pode ser uma poderosa ferramenta de mudança social. Através dela, novas vozes são ouvidas, e histórias que antes eram silenciadas ganham vida, permitindo que a sociedade enfrente suas verdades e promova a justiça social. A quebra do silêncio, não apenas pela escrita, mas pela música e outras formas de arte, continua a ser um caminho crucial para a resistência e a luta por um mundo mais justo e igualitário.