Brasil, 25 de maio de 2025
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A água da chuva e a presença de agrotóxicos: um alerta para a saúde

A pesquisa da Unicamp revela a contaminação da água da chuva por agrotóxicos, levantando preocupações sobre a saúde pública.

A água da chuva tem se tornado uma alternativa cada vez mais considerada para solucionar a escassez hídrica causada pelas mudanças climáticas e pelo aumento populacional. Contudo, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) desaconselham o uso dessa água para consumo, alimentação ou higiene pessoal sem tratamento prévio. A análise das chuvas é fundamental para detectar a presença de contaminantes. Esse é um alerta que um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe à tona ao realizar um estudo que identificou a presença de agrotóxicos na água da chuva em várias cidades paulistas.

Pesquisa da Unicamp: agrotóxicos na água da chuva

Entre agosto de 2019 e setembro de 2021, os pesquisadores coletaram amostras de água da chuva em Campinas, Brotas e São Paulo. Os resultados, publicados na revista científica Chemosphere no final de abril, mostraram a presença de 14 tipos de agrotóxicos nas amostras analisadas. “Nós já sabíamos que uma quantidade de agrotóxico é encontrada nas águas dos rios, mas estudar na água da chuva foi uma novidade no Brasil”, explicou Cassiana Montagner, coordenadora do Laboratório de Química Ambiental da Unicamp.

Contaminação: um problema em ascensão

Os agrotóxicos podem contaminar a água da chuva por várias vias, como o escoamento superficial que transporta esses produtos químicos, práticas inadequadas de manejo do solo, e até vazamentos acidentais. No estudo, o herbicida atrazina, amplamente utilizado na agricultura brasileira, foi detectado em todas as amostras coletadas. Outro agrotóxico, o carbendazim, que é proibido no país, foi encontrado em 88% das amostras, com maiores concentrações na cidade de Brotas. A presença do herbicida tebuthiuron também foi confirmada pela primeira vez em água de chuva, em 75% das amostras.

Embora as concentrações dos agrotóxicos não tenham ultrapassado os limites da água potável estabelecidos no Brasil, algumas substâncias detectadas carecem de padrões de segurança definidos. “Isso significa que não sabemos qual a concentração segura para a saúde humana”, alerta Montagner.

Os riscos à saúde

A exposição prolongada, mesmo a baixas dosagens de agrotóxicos, pode acarretar sérios problemas de saúde. De acordo com a pesquisadora, “embora a água da chuva não seja consumida diariamente, isso acende um alerta, pois algumas dessas substâncias estão associadas a doenças crônicas, como infertilidade, doenças respiratórias e até câncer.”

Agrotóxicos no ar que respiramos

O estudo também revela que a presença de agrotóxicos na água da chuva implica que esses produtos químicos estão na atmosfera, o que requer atenção redobrada. Campinas, ponto central da pesquisa, apresentou a maior concentração de agrotóxicos por metro quadrado, com 701 microgramas, refletindo a sua extensa área agriculturável.

Por outro lado, São Paulo, que possui uma menor área destinada à agricultura, também apresentou índices preocupantes, com 223 microgramas por metro quadrado. “Os dados mostram que as partículas de agrotóxicos conseguem se deslocar e contaminar ambientes que estão distantes das áreas de cultivo”, diz Montagner.

Caminhos dos agrotóxicos até a água da chuva

Os agrotóxicos aplicados nas lavouras podem se dissipar na atmosfera, condensando-se nas gotículas de água que resultam em chuva. Assim, a precipitação pode levá-los de volta ao solo, afetando áreas bastante distantes das plantações. Essa dinâmica é semelhante à que ocorre na formação da chuva ácida, que se torna um problema ambiental significativo devido à poluição atmosférica.

A importância do tratamento da água da chuva

Diante dos riscos identificados, a pesquisadora Montagner afirma que é seguro usar a água da chuva para lavar quintais ou irrigar plantas, desde que não seja para o consumo humano. As análises reforçam a necessidade de um tratamento adequado para minimizar os perigos da contaminação. Esse estudo não só levanta a questão da qualidade da água da chuva, mas também evidencia a urgência de discussões sobre práticas agrícolas e a regulação do uso de agrotóxicos no Brasil.

Com a crescente urbanização e mudanças climáticas, a gestão sustentável da água tornou-se indispensável para a segurança e a saúde da população. Encorajar o tratamento da água da chuva e promover novas legislações que restrinjam o uso de agrotóxicos poderá não apenas preservar a qualidade da água, mas também garantir um futuro mais saudável.

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