Os brasileiros dedicam em média 3 horas e 37 minutos por dia às redes sociais, o que coloca o país na terceira posição global nesse índice, segundo dados recentes. Em comparação, países europeus como França, Itália e Suíça registram menos de duas horas diárias, enquanto o Japão fica abaixo de 60 minutos.
O efeito das redes sociais no comportamento e na sociedade brasileira
Apesar da quantidade de tempo que brasileiros passam em plataformas digitais, especialistas alertam para os efeitos negativos dessa exposição prolongada. Pesquisas indicam que as redes influenciam comportamentos, alimentando episódios de incitação à violência, racismo, misoginia e a propagação de notícias falsas.
Consequências na saúde mental e na formação do padrão de sucesso
De acordo com Claudio Providas, chefe do Pnud no Brasil, a convivência intensiva com as mídias sociais tem aumentado preocupações relacionadas à saúde mental e à ansiedade, especialmente entre jovens com menos de 15 anos. “Há uma pressão pela adaptação a um padrão que é definido por essas plataformas”, afirma.
Regulamentação e concentração do setor
O ambiente digital no Brasil apresenta lacunas regulatórias. Marie Santini, diretora do Netlab da UFRJ, denuncia: “O setor de redes sociais é a única que não precisa seguir nenhuma legislação brasileira, tornando-se uma verdadeira terra sem lei, favorecendo fraudes, crimes e até venda de drogas”.
O relatório do Pnud reforça que o Brasil tem uma das menores taxas de acesso à educação digital, o que agrava a vulnerabilidade da população frente às informações circulantes nas plataformas digitais. “Precisamos avançar na regulação”, reforça Santini.
Concentração de poder e impacto econômico
O setor é dominado por poucas big techs — Google, Meta, Apple, Amazon e Microsoft — cujo patrimônio soma valor superior ao PIB de muitos países em desenvolvimento. Roberto Santos, do Instituto de Energia da UFRJ, destaca: “Essa concentração ameaça a independência nas decisões e o controle da circulação de informações”.
As ações dessas empresas refletem seu poder. Entre janeiro e maio, Nvidia teve uma valorização de 1.398%, Tesla 445,98%, Meta 180,33% e Apple 163,40%, enquanto os principais índices americanos cresceram, respectivamente, 93,18%, 69,53% e 96,56%, segundo a consultoria Elos Ayata.
Fake news e desafios regulatórios
O impacto das fake news é evidenciado na disseminação de informações falsas durante a pandemia de Covid-19, que contribuiu para o aumento dos casos e da desconfiança pública. Mais recentemente, relatos falsos sobre a taxação do Pix provocaram uma queda de 15,3% em suas operações.
Apesar de tentar avançar na legislação, o Brasil enfrenta resistência. O projeto de lei 2630, conhecido como PL das Fake News, foi considerado ineficaz e criticado por entidades de oposição. Novas propostas de regulação, como o PL antitruste visando as big techs, aguardam votação, inspiradas nas regras adotadas pela União Europeia, que já multou empresas como Apple e Meta em cerca de US$ 800 milhões por violações.
Necessidade de regulação e proteção dos direitos
Especialistas defendem a urgência de uma legislação que regule o funcionamento das plataformas digitais, incluindo a moderação de conteúdo. Renata Mielli, do CGI.br, destaca: “Sem uma regulação adequada, ficamos à mercê de plataformas que operam de forma opaca e sem responsabilidade”.
O desafio é equilibrar liberdade de expressão e proteção contra os perigos da desinformação, algo que experiências internacionais, como a Lei dos Serviços Digitais na Europa, vêm tentando endereçar. Como aponta Francisco Pinto Cruz, da FGV Direito SP, a realidade do Brasil é distinta, e as soluções também devem ser adaptadas à sua realidade social e econômica.
Perspectivas e o papel da educação digital
Para Bia Barbosa, do CGI.br, o Brasil precisa investir na educação digital, pois a população ainda tem acesso limitado às informações necessárias para lidar com os efeitos do ambiente digital. “A regulação não deve ser um obstáculo, mas uma garantia de que as plataformas operem de forma transparente e responsável”, conclui.
Com o avanço das plataformas e o aumento do tempo dedicado ao mundo virtual, a atenção às questões de saúde mental, regulação e impacto social torna-se imprescindível para garantir uma convivência digital mais segura e consciente. Fonte: O Globo
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