A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga a motivação por trás do crime cometido por Marcelo Marchese D’Ottavio e Tania Conceição Marchese D’Ottavio, irmãos que foram presos após manter o corpo de seu pai, Dario Antonio Raffaele D’Ottavio, em casa por vários meses. A Justiça converteu a prisão deles de provisória para preventiva, destacando a gravidade da situação e as circunstâncias que cercam o caso.
Detalhes do caso chocante
O corpo de Dario foi encontrado em avançado estado de decomposição dentro do apartamento na Ilha do Governador. As primeiras investigações indicam que ele pode ter morrido há pelo menos seis meses, embora vizinhos relatem que não o viam desde novembro de 2023. Os filhos foram detidos em flagrante por ocultação de cadáver e resistência. Durante a audiência de custódia, que aconteceu na tarde de sábado (24), os irmãos, internados em unidades psiquiátricas, não compareceram.
A juíza Laura Noal Garcia, responsável pelo caso, observou que Marcelo e Tânia não tinham antecedentes criminais, mas a gravidade das ações justificou a manutenção da prisão cautelar. A magistrada também citou a resistência dos irmãos à entrada da polícia no apartamento, que exigiu o uso de força para cumprir o mandado de busca e apreensão.
Motivos financeiros e benefícios previdenciários
A investigação da 37ª DP (Ilha do Governador) levanta a hipótese de que a motivação para o crime possa ter sido financeira. Dario possuía dois benefícios ativos do INSS, totalizando mais de R$ 5 mil, o que sugere que a ocultação do corpo estava ligada a interesses econômicos dos filhos. O delegado Felipe Santoro, da 37ª DP, confirmou que as evidências iniciais apontaram para a titularidade de aposentadoria e pensão por morte, alimentando as suspeitas sobre a motivação dos irmãos.
Além das evidências financeiras, a polícia encontrou diversos bens aparentemente novos no apartamento, o que reforçou a suspeita de que os filhos estavam aproveitando-se da situação do pai há um bom tempo. O delegado ressaltou que a linha de apuração continua em andamento e que outras possibilidades também estão sendo consideradas, incluindo a de homicídio.
Denúncias de vizinhos e ações preventivas
As investigações revelam que alguns vizinhos já tinham feito denúncias à polícia sobre o desaparecimento de Dario. Uma vizinha relatou que chamou a Polícia Militar diversas vezes para que verificassem a situação, pois temia que o idoso estivesse sendo mantido em cárcere privado pelos filhos. No entanto, a resistência de Marcelo em permitir a entrada dos PMs gerou dificuldades em confirmar as suspeitas.
Esse caso levanta questões sobre a necessidade de ação mais efetiva das autoridades diante de denúncias de possíveis abusos familiares. A vizinha também procurou o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da região, mas foi informada de que sem um mandado judicial, a intervenção não poderia ocorrer.
Análise e consequências do caso
A descoberta do corpo e as circunstâncias em que os irmãos tentaram ocultá-lo expõem a fragilidade das redes de proteção que deveriam preservar os direitos dos idosos e garantir a segurança deles em situações de vulnerabilidade. Este caso faz parte de um contexto mais amplo, onde a violência familiar e a exploração financeira de pessoas idosas são temas que precisam ser urgentemente abordados pelas autoridades.
A sociedade aguarda desdobramentos da investigação e um posicionamento das autoridades competentes, não somente para assegurar a justiça neste caso, mas também para implementar práticas de prevenção que possam evitar situações como essa. Dario, cujo corpo foi encontrado, é apenas um entre muitos idosos que podem estar vivendo situações similares, longe dos olhos da sociedade e das autoridades.
O caso de Marcelo e Tânia Marchese D’Ottavio serve como um alerta e um chamado à ação para que todos aqueles que convivem com idosos fiquem atentos e dispostos a agir em casos de suspeita de maus-tratos e abandono, a fim de proteger os que não conseguem se defender.