A designer Elisângela Sant’Anna, moradora de Brasília, tem se destacado no curioso mundo das bonecas reborn, tendo adotado até 36 dessas criações realistas. Atualmente, ela é “mãe” de 26 bonecas, que variam em características e realismo. O preço de algumas delas pode chegar a impressionantes R$ 5 mil, refletindo não apenas a arte envolvida, mas também o apego emocional que muitas pessoas, como Elisângela, desenvolvem por esses brinquedos.
A arte reborn e a singularidade de cada boneca
O universo dos bebês reborn, que imitam traços humanos com impressionante fidelidade, encanta Elisângela há seis anos. “Cada boneca é única, assim como cada ser humano,” explica a designer. “Os cílios, as mãozinhas, e até os traços são feitos com cuidado para nascer a ilusão de um recém-nascido. No entanto, ao mesmo tempo, é importante manter claro que são brinquedos.”
Recentemente, a designer tem observado uma crescente polêmica nas redes sociais envolvendo as “mães reborn”. Muitas dessas mulheres publicam vídeos onde tratam as bonecas como se fossem bebês reais, levando-as a consultas médicas ou realizando simulações de parto, o que gerou preocupações sobre os limites do que é considerado normal nesse universo.
Críticas e a busca pelo equilíbrio
“Há quem exagera, e isso prejudica a verdadeira essência da arte,” comenta Elisângela. Ela compartilha sua experiência de lidar com críticas, inclusive da própria família, que não compreendia sua paixão pelas bonecas. “Já passei por sessões de terapia para entender melhor esse carinho especial. Mas, no fundo, tenho um apego saudável. Quando chego em casa cansada e olho para eles, sinto uma alegria imensa.” Ela também não esquece de mencionar que já doou algumas das suas bonecas para amigos.
Apesar do carinho, Elisângela vivenciou situações inusitadas, como receber uma multa do Departamento de Trânsito (Detran-DF) por estar com uma boneca no banco do passageiro. Mesmo tentando explicar que se tratava de um brinquedo, não obteve sucesso em reverter a multa.
O significado dos bebês reborn e sua polêmica no Brasil
A origem do termo reborn remete às mães inglesas do período da Segunda Guerra Mundial, que reinventaram bonecas antigas. Com o passar das décadas, a arte foi se popularizando, principalmente nos anos 90 nos Estados Unidos. Os bebês reborn, caracterizados por traços hiper-realistas, começaram a conquistar adeptos também entre os brasileiros, o que culminou em um grande crescimento do mercado dessa modalidade de brinquedo.
Com a popularização, surgiram debates sobre o papel emocional que essas bonecas desempenham na vida de algumas pessoas. Recentemente, “mães reborn” têm compartilhado conteúdo polarizante nas redes sociais. Um encontro em São Paulo, promovido por um grupo de mulheres, e um vídeo de uma influenciadora que simula o parto de uma boneca repercutiram intensamente.
Iniciativas políticas e o mercado crescente no Distrito Federal
O fenômeno das bonecas reborn também ganhou espaço nas pautas políticas. Recentemente, no Rio de Janeiro, o projeto de criar um dia dedicado às “Cegonhas Reborn” foi aprovado, homenageando as artesãs do ramo. Além disso, chegou a ser proposta uma multa de mais de R$ 30 mil para quem usasse os bebês reborn para furar filas. Em Curitiba, a prefeitura elaborou um alerta estabelecendo que mães de bebês reborn não têm direito ao banco preferencial.
No Distrito Federal, a loja da empreendedora Michelly Souza, que se especializou na arte reborn, também reflete o crescimento desse mercado. Desde 2013, ela tem recebido altos pedidos e se surpreendeu ao perceber que o nicho estava crescendo de maneira acelerada.
Considerações finais
O mundo dos bebês reborn, apesar de sua polêmica, revela uma faceta da sociedade que busca conforto emocional e uma forma de expressão artística. Para Elisângela e outras mães, esses brinquedos representam mais do que simples colecionáveis; são formas de amor e conexão, trazendo um pouco de alegria e cor ao cotidiano. O equilíbrio entre a imaginação e a realidade, apontado por Elisângela, continua sendo um importante ponto de reflexão nesse universo fascinante.
Embora existam controvérsias sobre o uso e a adulação excessiva das bonecas, o carinho e a apreciação pela arte reborn mostram que, independentemente das críticas, o amor por essas criações é uma realidade para muitos. Assim, o debate sobre o papel dos bebês reborn na vida de seus colecionadores está longe de chegar ao fim.