Em um contexto de crescente digitalização no setor jurídico, advogados de réus na trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro e outras 30 figuras notórias, como generais e ex-ministros, estão começando a utilizar inteligência artificial (IA) para apoiar suas estratégias de defesa. O caso, considerado um dos mais significativos da história recente do Supremo Tribunal Federal (STF), investiga um esquema para manter o ex-presidente no poder, desafiando a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Integração da inteligência artificial na advocacia
Segundo informações de fontes ligadas ao caso, escritórios de advocacia de diferentes núcleos da trama têm utilizado ferramentas de IA como “Claude”, “Gemini” e “Jurídico AI”. Essas tecnologias se revelam úteis em diversas atividades, incluindo a pesquisa de jurisprudência, a elaboração de teses e o resumo de textos jurídicos. Além disso, ajudam na correção ortográfica e na formatação de documentos legais, que podem chegar a milhares de páginas dentro do processo em questão.
Um advogado que optou por não se identificar comentou: “São quase 20 volumes no processo e não conseguimos ver tudo. A inteligência artificial é uma espécie de assistente virtual. O escritório ganha agilidade”. Essa prática está se tornando um pilar essencial na preparação das defesas, considerando a magnitude e a complexidade do caso em tribunal.
A demanda por serviços de IA na defesa de Bolsonaro
Os defensores, embora estejam adotando essas tecnologias, se mostram cautelosos em admitir publicamente o uso da IA, principalmente devido às controvérsias que cercam a implementação dessas ferramentas. Em um momento delicado do processo, que atrai atenção não apenas da mídia, mas também da sociedade, os advogados preferem evitar desgaste ou divergência sobre sua estratégia.
De acordo com relatos, dois escritórios de advocacia informaram que gastam, em média, entre R$ 8 mil e R$ 10 mil por mês em serviços de inteligência artificial. Empresas que oferecem essas soluções possuem mensalidades em torno de R$ 3 mil, além de uma cobrança adicional de R$ 0,50 por página lida pelo sistema, o que pode subir rapidamente os custos da defesa.
Ferramentas em destaque
O “Claude”, desenvolvido pela Anthropic, é uma das ferramentas que estão ganhando espaço. Versões mais recentes do bot têm capacidades que incluem resumir e responder perguntas de maneira dinâmica. “Gemini”, do Google, também é mencionado como um forte concorrente no segmento de inteligência artificial, somando 400 milhões de downloads e aumentando sua popularidade entre os usuários juntos ao ChatGPT. Já o “Jurídico AI” se especializa na criação de peças processuais, prometendo eficiência e rapidez na elaboração de documentos, suprindo a demanda por conteúdos jurídicos de qualidade.
Essas inovações não se restringem apenas ao contexto da defesa de Bolsonaro. Há relatos de que a IA está sendo utilizada em vários segmentos da advocacia, mostrando seu potencial para transformar a rotina de trabalho dos profissionais da área jurídica.
Um exemplo notável é o uso da IA por um deputado, que redigiu um requerimento de informações utilizando uma ferramenta de inteligência artificial. No requerimento, ele não apenas elaborou suas perguntas com a ajuda da IA, mas deixou a advertência: “Tentar novamente. O Claude pode cometer erros. Confira sempre as respostas”. Isso aponta para uma conscientização crescente a respeito das limitações e responsabilidades inerentes ao uso dessas tecnologias.
A importância da vigilância e da ética no uso da IA
À medida que a IA se torna um recurso mais comum nas práticas jurídicas, questões éticas e de segurança emergem. A comunidade jurídica está se questionando sobre a confidencialidade dos dados processados pela inteligência artificial e o risco de informações sensíveis serem expostas ou mal interpretadas. Portanto, enquanto os advogados buscam otimizar seus processos, a vigilância sobre as implicações do uso dessas tecnologias permanece crucial.
A utilização de inteligência artificial na defesa de um caso tão emblemático destaca não apenas a capacidade de adaptação do setor jurídico às novas tecnologias, mas também as complexidades que acompanham essa mudança de paradigma. À medida que o julgamento avança, será interessante ver como essas ferramentas moldarão o resultado e as implicações legais para todos os envolvidos.
Com a evolução da tecnologia, movimentos como o desses advogados mostram um caminho trilhado pela inovação que precisa ser balanceado com a ética, garantindo que a justiça seja servida de maneira equitativa e transparente.