Na recente assembleia da União dos Superiores Gerais (USG), realizada em Sacrofano, o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, apresentou diretrizes fundamentais para o futuro da vida consagrada na Igreja. Entre os temas abordados, destacaram-se a valorização das Igrejas locais, o impulso missionário e a luta contra o preocupante fenômeno dos abusos. Grech enfatizou que a transformação requer modelos de liderança que promovam a partilha de responsabilidades e transparência, fundamentais para erradicar práticas abusivas que, muitas vezes, se infiltraram nas instituições religiosas.
Valorizando as Igrejas locais
No discurso proferido na última sexta-feira (23/05), Grech ressaltou a importância da centralidade das Igrejas locais, que precisam se apresentar não como um “monolito” imposto, mas como um verdadeiro “Povo de Deus”. Essa abordagem visa tornar a Igreja mais próxima das diversas culturas ao redor do mundo, reconhecendo sua pluralidade. O cardeal também destacou a necessidade de um novo exercício de autoridade na vida consagrada, que vá além das distorções que muitas vezes levam a abusos de poder e de consciência. Uma mudança de mentalidade é vital, principalmente no que diz respeito à vida consagrada feminina, marcada historicamente por uma mentalidade machista.
O caminho sinodal e a missão
A reflexão sobre o exercício de autoridade na Igreja é parte do processo sinodal, que busca fomentar uma cultura de participação e colaboração dentro da vida consagrada. Grech lembrou que o Sínodo não é um fim, mas um caminho contínuo de “apropriação viva” dos ensinamentos da Igreja. A participação dos consagrados e consagradas deve levar a um “enriquecimento recíproco” nas Igrejas locais, onde a experiência de vida sinodal dos institutos religiosos pode ser valiosa. Elementos como decisão coletiva, busca de consenso e exercícios de discernimento tornam-se fundamentais neste contexto.
Abusos: uma questão de autoridade
Um dos temas mais delicados abordados pelo cardeal foi o dos abusos dentro da Igreja, que não se restringem apenas ao abuso sexual, mas também envolvem outras formas de violação da consciência e liberdade. Grech destacou que o abuso sexual é uma expressão extrema de uma cultura que ainda prepondera em muitas comunidades, incluindo as religiosas. Ele lembrou que a luta contra esse flagelo não pode se dar apenas por meio de repressão, mas requer uma mudança profunda na forma como a autoridade é exercida e compreendida na vida consagrada. A promoção de modelos de liderança que incentivem a sinodalidade é essencial para combater essas tendências.
Evangelização e a missão da Igreja
Grech também fez um apelo para que a Igreja “saia das salas” e se aproxime das realidades humanas. A missão da Igreja deve ser renovada para que as instituições religiosas se tornem cada vez mais missionárias, abertas e atentas às periferias. A partir do pensamento do Papa Francisco, o cardeal enfatizou a necessidade de que a pastoral ordinária se torne mais expansiva, atingindo aqueles que ainda enfrentam marginalização e opressão. Ele concluiu que os missionários devem ser “postos avançados da renovação missionária”, contribuindo para que o cristianismo se coloque em diálogo com todas as culturas.
Este processo sinodal e a valorização da vida consagrada como motor de esperança são passos essenciais para que a Igreja do século XXI se renove e se fortaleça, refletindo a diversidade e a riqueza das experiências cristãs ao redor do mundo. O chamado à mudança é urgente e necessário e deve ser vivenciado não apenas nas esferas institucionais, mas especialmente no cotidiano das comunidades de fé.
Concluindo, a assembleia da USG em Sacrofano não só trouxe à tona debates relevantes sobre a vida consagrada, mas também reafirmou a importância de cada membro da Igreja na missão de evangelização e construção de uma comunidade mais harmônica e justa.