Na manhã desta sexta-feira, 23 de maio, o Papa Leão XIV recebeu a presidência da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece) no Vaticano. O encontro destacou temas cruciais, como o conflito na Ucrânia, que requer uma “paz justa”, e outros assuntos pertinentes, como migração, acompanhamento dos jovens, transmissão da fé e o impacto da inteligência artificial.
A busca por paz na Ucrânia
A crise na Ucrânia foi um dos tópicos centrais da audiência. O bispo presidente da Comece, Dom Mariano Crociata, enfatizou que a Europa deve buscar união e concordância entre as nações para conseguir promover uma direção comum. Ele salientou a preocupação com o aumento dos gastos em armamentos, expressando receio de que isso possa prejudicar o apoio aos mais vulneráveis da sociedade. O Papa Leão XIV não se posicionou diretamente sobre o rearmamento, mas manifestou sua preocupação com as direções que a Europa está tomando em um momento tão delicado.
Dom Crociata ainda ressaltou que a audiência realizada pouco após a eleição de Leão XIV é significativa, considerando o contexto de mudanças políticas na Europa e a nova administração dos Estados Unidos. A mensagem do Papa reforça a necessidade urgente de buscar soluções para a guerra na Ucrânia e os conflitos que afligem o continente europeu.
Impactos sociais das despesas de guerra
Outro ponto abordado foi a intersecção entre o conflito armado e as consequências sociais. Dom Antoine Hérouard, vice-presidente da Comece, observou a situação econômica e social agravada pela guerra, especialmente o aumento dos preços de energia e a necessidade de garantir ajuda aos que mais sofrem. Ele enfatizou que os investimentos em defesa não podem se traduzir em menos assistência aos necessitados, apresentando um dilema ético que a Europa deve enfrentar para preservar a dignidade dos cidadãos.
Migração e a necessidade de acolhimento
A questão da migração também foi um assunto de relevante discussão. O bispo português Nuno Brás da Silva Martins, outro vice-presidente da Comece, apontou para a necessidade de acolher migrantes, não apenas para combater o declínio populacional, mas também para honrar a dignidade humana e as raízes cristãs da Europa. No entanto, ele sinalizou que ainda há uma “incapacidade de integrar os recém-chegados”, o que representa um desafio significativo para as nações europeias.
Acompanhamento dos jovens e transmissão da fé
O Papa Leão XIV expressou sua preocupação com o acompanhamento dos jovens e a transmissão da fé. Dom Crociata e outros bispos destacaram o aumento do cancelamento de registros de batismo, um fenômeno crescente em países como Bélgica e Países Baixos. Eles alertaram para o impacto que isso pode ter sobre a liberdade religiosa e o direito dos pais de educar seus filhos conforme suas convicções.
A discussão incluiu a perspectiva de que uma decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos a respeito do “desbatismo” poderia impactar a autonomia da Igreja e seu papel na educação das crianças, evidenciando a necessidade de proteger a liberdade religiosa em um contexto cada vez mais secularizado.
Inteligência artificial e responsabilidade social
Por fim, o Papa demonstrou grande interesse sobre o tema da inteligência artificial, uma questão emergente que envolve a desinformação e a proteção da dignidade humana. Dom Crociata enfatizou que a inteligência artificial deve ser abordada com cautela, considerando suas implicações para o trabalho e a vida das pessoas, ressaltando que é necessário um debate ético mais aprofundado sobre esse assunto.
As discussões durante a audiência revelaram a posição da Igreja em relação aos desafios contemporâneos que a Europa enfrenta. Com um foco em questões de paz, integração, responsabilidade social e proteção da dignidade humana, o Papa Leão XIV e a Comece buscam promover uma agenda que prioriza a solidariedade e a justiça em meio a tempos de incerteza.
