O jiu-jitsu brasileiro, frequentemente mencionado como “Brazilian Jiu-Jitsu” ou BJJ, tem conquistado os Estados Unidos de uma maneira impressionante. Estima-se que cerca de 3 mil academias no país utilizem essa nomenclatura em suas divulgações, refletindo o forte apelo da arte marcial como uma prática eficaz para autodefesa, esporte competitivo e condicionamento físico. O crescimento deste fenômeno é liderado pela Barra Gracie, uma rede de academias que, nas últimas décadas, se expandiu significativamente, estabelecendo 400 unidades em grandes centros urbanos americanos. Os estados mais notáveis neste crescimento incluem Califórnia, Flórida, Texas, Arizona e Illinois.
O potencial do mercado de jiu-jitsu nos EUA
Diante desse cenário promissor, o mercado para professores brasileiros de jiu-jitsu se torna atraente. Os rendimentos desses profissionais variam de US$ 50 mil a US$ 80 mil por ano (aproximadamente R$ 280 mil a R$ 450 mil), enquanto os proprietários de academias bem estabelecidas podem ultrapassar os US$ 150 mil anuais (cerca de R$ 846 mil). Paulo Vittorino, um mineiro de 43 anos que reside nos EUA desde os 22, exemplifica essa nova realidade. Ele aprendeu a arte na Barra Gracie, no Rio de Janeiro, e atualmente é sócio de uma academia na Flórida.
“Vencer é a melhor propaganda possível. Eu assistia às lutas dos irmãos Rickson e Royce Gracie, e eles nunca eram derrotados. Era impossível para um garoto entrando na adolescência não sonhar em ser como eles”, compartilha Vittorino, refletindo sobre a influência da família Gracie na popularização do jiu-jitsu.
Raízes históricas do jiu-jitsu brasileiro
Para compreender o fenômeno do jiu-jitsu nos EUA, é preciso voltar mais de um século na história, a Belém do Pará, na década de 1910. Os irmãos Gracie, formados por cinco jovens, tiveram o primeiro contato com o mestre japonês Mitsuyo Maeda, que estava em turnê para disseminar o judô e outras artes marciais. Carlos Gracie foi o primeiro a aprender o jiu-jitsu. Ao se mudar para o Rio de Janeiro, começou a ensinar a técnica, criando os famosos “Desafios Gracie” para comprovar a eficácia do jiu-jitsu contra outras artes marciais.
Helio Gracie, o irmão mais novo, teve um papel crucial na evolução do Jiu-Jitsu Gracie. Ele adaptou a técnica para que mesmo pessoas com menor força física pudessem aplicá-la, utilizando movimentos de alavanca. A invencibilidade de Helio diante de adversários fisicamente mais robustos solidificou sua posição como um ícone no Brasil.
A evolução do ensino do jiu-jitsu
Helio modificou a técnica enquanto Carlos expandiu os ensinamentos para uma filosofia de vida, introduzindo a Dieta Gracie, que ganhou notoriedade em diversos países. A colaboração dos filhos de Carlos Gracie foi fundamental na conquista do mercado americano. Na década de 1970, Rorion Gracie mudou-se para a Califórnia, onde começou a ensinar na garagem de sua casa. Com o passar do tempo, ele atraíra muitos adeptos e até trabalhou na indústria cinematográfica.
Em 1993, a criação do Ultimate Fighting Championship (UFC) por Rorion foi um marco na divulgação do BJJ. Ele propôs uma competição entre lutadores de diferentes técnicas, o que demonstrou a eficácia do jiu-jitsu quando Royce Gracie venceu o primeiro UFC, tornando-se uma lenda do esporte. Embora Rorion tenha vendido sua parte no UFC, o impacto da família Gracie na popularização do BJJ estava solidificado.
A Gracie Barra e o legado do jiu-jitsu
Em 1986, Carlos Gracie Jr. fundou a Gracie Barra no Rio de Janeiro com o objetivo de preservar o legado familiar. Hoje, quase 40 anos depois, a academia conta com mais de mil unidades em 40 países, todas seguindo um mesmo método de ensino. A atração dos alunos se dá principalmente pela formação de lutadores, com muitos professores desta rede sendo campeões mundiais.
O crescimento do jiu-jitsu brasileiro nos EUA mostra não apenas a eficácia da arte marcial, mas também a força do legado deixado pelos Gracie. Profissionais brasileiros que decidiram se aventurar na terra do Tio Sam vêm não só conquistando novos estudantes, mas também assumindo o papel de embaixadores da cultura do jiu-jitsu, solidificando cada vez mais a presença dessa arte no mundo.