Na manhã da última sexta-feira (23), o cantor de funk Francisco Wanderson Mendes, conhecido como “MC Dym”, de 31 anos, foi detido ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Fortaleza. O artista estava a caminho do Ceará para realizar dois shows: um em Fortaleza e outro no município de Acaraú, localizado a 237 quilômetros da capital. Sua prisão ocorreu em meio a uma operação significativa que acabou resultando na detenção de outros 18 indivíduos, todos envolvidos em atividades de uma facção criminosa.
Operação que levou à prisão
A prisão de MC Dym se insere no âmbito da Operação Nocaute II, que visa combater o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro e outros Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). O cantor foi localizando durante o procedimento de fiscalização do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) e apresentava um mandado de prisão em aberto. Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Márcio Gutiérrez, tanto ele quanto o também funkeiro MC Dick tinham papéis ativos na promoção da facção criminosa Comando Vermelho através de suas músicas, que glorificavam o crime organizado.
O papel da música na promoção do crime
Em coletiva, o delegado Márcio Gutiérrez expôs a estratégia utilizada por MC Dym e outros artistas para atrair jovens para o tráfico e a criminalidade, afirmando que suas letras “romantizavam” a vida do crime. As canções compondo a obra desses artistas muitas vezes traziam referências específicas a criminosos e grupos dentro da organização, tornando suas mensagens mais impactantes em contextos locais. Gutiérrez ressaltou que “eles faziam um trabalho muito minucioso para entender a dinâmica do crime e construir essas músicas direcionadas” visando angariar novos integrantes para a facção.
Perfil de MC Dym
Natural do Rio de Janeiro, MC Dym possui mais de 40 mil seguidores em suas redes sociais e, conforme as plataformas de música, seus trabalhos contavam com 4.500 ouvintes mensais. Em seus conteúdos, o artista frequentemente exibe momentos de sua vida pessoal, sendo pai e casado, mas suas letras frequentemente exaltam a violência e actividades da facção CV. Seus posts nas redes sociais incluem uma imagem em que faz um gesto associada à facção e um verso de uma de suas músicas que diz: “Se tentar pegar o bonde, é bala”.
Sobre MC Dick
Outra figura central nessa operação é Carlos Eduardo de Almeida Pires, conhecido como “MC Dick”, que também foi preso. Com 27 anos, ele é conhecido por letras que fazem apologia ao crime e que ameaçam as autoridades policiais. A música “X9 nós cancela”, por exemplo, contém referências diretas a confrontos entre criminosos e os policiais, revelando a natureza violenta e criminosa de suas obras.
Consequências da operação
Com a Operação Nocaute II, foram não apenas aprisionados os funkeiros, mas também outros 18 suspeitos, além da realização de mandados de busca e apreensão em Fortaleza e Itarema, no interior do Ceará. Durante a ação, diversos veículos e aparelhos celulares foram confiscados, e a polícia pediu o bloqueio de até R$ 20 milhões de contas dos investigados, demonstrando a magnitude da operação e o foco em desmantelar inteiramente a rede criminosa.
Assim, a prisão de MC Dym e a operação em que ele foi detido revelam uma intrincada relação entre a música e o crime organizado no Brasil, levantando questões sobre o papel da cultura na formação da percepção social sobre a criminalidade e a sedução que essas narrativas exercem sobre os jovens.
Implicações para o futuro
A detenção de MC Dym e a análise da operação indicam um esforço contínuo das autoridades em combater a normalização do crime através da música, que é uma importante reflexão sobre a influência que a cultura tem na vida social e na juventude brasileira. Resta saber como será abordada essa intersecção entre música e criminalidade no futuro e quais medidas serão adotadas para combater esse tipo de promoção do crime nas mídias.