Brasil, 23 de maio de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Brasil enfrenta desafios com tarifas de Trump e aposta em negociações discretas

Após o tarifazo de Trump, setor industrial brasileiro teme impacto, enquanto diplomacia aposta em negociações estratégicas com os EUA

Um ano após a celebração do bicentenário das relações diplomáticas com os Estados Unidos, o Brasil vive um momento tenso devido às novas tarifas impostas pelo governo americano. Anunciadas por Donald Trump em 2 de abril, as medidas desafiam o setor industrial brasileiro, especialmente os segmentos exportadores de produtos da transformação, que enfrentam tarifas de até 25%, com cerca de 70% das exportações sujeitas a alíquota de 10%.

Impactos das tarifas e a resposta do Brasil

Segundo dados da Câmara de Comércio dos Estados Unidos (Amcham), setores como aço, alumínio e autopeças estão mais afetados, com tarifas maiores que variam de 20% a 25%. Os produtos derivados de madeira também preocupam, apesar de 10% das exportações brasileiras, principalmente petróleo, terem sido poupadas dessas medidas. O Brasil reagiu inicialmente às tarifas de aço e alumínio, criticando publicamente a adoção das medidas, que violam compromissos internacionais perante a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o presidente Lula chegou a discursar contra as “tarifas arbitrárias” de Trump, porém, a atuação diplomática ainda é considerada moderada. “O Brasil tem adotado uma postura de negociação, buscando cotas e acordos específicos em setores estratégicos”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Negociações e estratégias de gestão

Representantes do setor privado reconhecem a dificuldade de negociar, especialmente nos setores de aço e alumínio, onde a maior complexidade é perceptível em relação ao primeiro mandato de Trump. Abrão Neto, CEO da Amcham, explica que, embora as conversas estejam acontecendo, as negociações estão mais difíceis, e ainda não há sinais claros de avanço. “Estamos em um cenário mais complexo, mas o diálogo não foi interrompido”, afirma.

Para a cooperação futura, há uma possibilidade de o setor de álcool ser contemplado com cotas, evitando tarifas mais elevadas. “Os EUA podem abrir o mercado para o açúcar brasileiro, enquanto o Brasil facilitará a entrada de etanol americano, construindo assim uma relação mais equilibrada”, avalia uma fonte diplomática.

Vantagens e limitações das negociações atuais

A atuação do Brasil no cenário internacional tem sido discreta, com negociações bilaterais que envolvem o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Haddad. Além disso, o entendimento de que os EUA representam um dos principais destinos para os produtos brasileiros – com exportações que somaram US$ 31,6 bilhões em 2024, cerca de 80% da pauta exportadora de produtos industriais – reforça a importância de manter boas relações comerciais.

No entanto, a perspectiva de uma solução definitiva ainda parece distante. “O momento é de negociações cautelosas, e o cenário atual exige paciência e estratégias bem elaboradas”, reforça Lamego, superintendente da CNC. Os acordos que começam a se delinear, como o acordo entre Reino Unido e EUA anunciado em maio, indicam um “novo normal” de tarifas mais elevadas, que possivelmente perdurará nos próximos anos, como explica Lamego.

Oportunidades além das tarifas

Diante desses desafios, o Brasil busca ampliar sua presença em negociações mais amplas, envolvendo transição energética, minerais críticos, propriedade intelectual e tecnologia. O objetivo é diversificar a pauta comercial e reduzir a dependência de tarifas, além de explorar novas oportunidades de investimento e exportação. “Estamos empenhados em criar uma relação mais estratégica com os EUA, que vá além de discussões tarifárias”, afirma uma fonte do Ministério da Economia.

O momento também é de aproveitar as reconfigurações globais das cadeias de valor, especialmente nos setores de semicondutores e baterias, que oferecem possibilidades de inserção competitiva do Brasil em novos mercados. “A reestruturação das cadeias de produção traz oportunidades únicas para quem estiver preparado”, destaca Tracy Francis, da McKinsey América Latina.

Perspectivas futuras

A aposta do Brasil é que, embora o cenário atual seja desafiador, a combinação de negociações diplomáticas, estratégias setoriais e diversificação de parcerias facilitará a manutenção de um ambiente de comércio mais estável. No entanto, a necessidade de previsibilidade e segurança jurídica permanece como prioridade para atrair investimentos e garantir o crescimento sustentável das exportações brasileiras.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes