O café, uma bebida quase sagrada na cultura brasileira, sofreu com uma queda alarmante em seu consumo, que foi de quase 16% em abril de 2025, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Essa diminuição significativa se deve, em grande parte, à disparada nos preços do grão, que subiram 80% nos últimos 12 meses, marcando a maior inflação registrada em três décadas, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).
A inflação e suas consequências para os brasileiros
No acumulado de 2025, entre janeiro e abril, as vendas de café também apresentaram declínio, com uma redução de 5,13% no volume comercializado, que totalizou 4,7 milhões de sacas de 60 quilos. Este cenário difícil reflete não apenas a realidade do mercado, mas também as preferências e hábitos dos brasileiros, que estão se tornando mais cautelosos em relação aos gastos com produtos essenciais, como o café.
Os dados da ABIC focam nas vendas do varejo, que correspondem a uma faixa entre 73% a 78% do consumo total do país. O aumento expressivo dos preços impactou de diferentes maneiras os diversos tipos de café disponíveis no mercado. O café solúvel, por exemplo, teve um aumento de 85% em seu preço em abril de 2025 em relação ao ano anterior. Outros produtos, como o café gourmet e o tradicional/extraforte, também mostraram altas consideráveis de 56% e 50%, respectivamente.
Por que os preços do café dispararam?
Vários fatores contribuíram para essa alta acentuada nos preços do café. Em fevereiro de 2025, a ABIC já havia alertado que os custos continuariam a subir nos meses seguintes, pois a indústria ainda não havia repassado totalmente o aumento no custo de compra de grãos.
Fatores que contribuíram para a alta
Entre os principais fatores apontados por especialistas estão:
- Calor e seca: O clima adverso do ano anterior causou estresse nas plantas de café, levando-as a abortar frutos e, consequentemente, a reduzir a produção. Geadas e ondas de calor afetaram a cultura, resultando em um aumento de 224% nos custos de matéria-prima para a indústria ao longo do tempo.
- Queda na oferta global: Grandes produtores de café, como o Vietnã, enfrentaram desafios climáticos e quedas de safra, pressionando ainda mais o mercado.
- Aumento nos custos de logística: Situações de conflito no Oriente Médio elevaram os custos de transporte e logística, impactando diretamente no preço do café para exportação e internamente no Brasil.
- Aumento do consumo: Com o café sendo a segunda bebida mais consumida mundialmente, depois da água, a demanda interna também influenciou a oferta, tornando mais difícil para os produtores atenderem a todo o mercado.
O futuro do café no Brasil
Com esse cenário alarmante, muitas questões ficam no ar sobre o futuro do café no Brasil. A indústria enfrenta o desafio de oferecer um produto que é fundamental na rotina de milhões de brasileiros, sem permitir que os preços se tornem proibitivos. Embora o gosto pelo café filtrado siga sendo apreciado, tanto no país quanto no exterior, será necessária uma revisão nas estratégias de produção e venda para manter a acessibilidade.
Além disso, a conscientização dos consumidores sobre a diferença entre café de qualidade e produtos similares, como “café fake”, se torna cada vez mais importante em tempos de crise. À medida que a indústria cafeeira busca novas soluções para enfrentar essas dificuldades, a expectativa é que o café não apenas continue a ser um elemento essencial da cultura brasileira, mas que também encontre seu lugar de destaque no mercado global de forma sustentável.
Os próximos meses serão cruciais para verificar como as vendas de café se adaptarão a essa nova realidade. À medida que as economias se ajustam e a produção busca recuperar o equilíbrio, a tradição do café brasileiro continuará a ser uma pedra angular da identidade desta nação.